Summary: | Educação do Campo é uma expressão que só recentemente foi incluída no vocabulário da educação
brasileira e na letra das leis relativas à educação nacional. A educação “no” campo, por outro lado, é
tão antiga quanto à própria manifestação do fenômeno da educação formal em nosso país. O processo
educativo ao qual se refere, hoje, a expressão Educação do Campo, se constituiu em oposição à chamada
Educação Rural pensada para o (e praticada no) campo brasileiro ao longo do tempo. Embora,
a sociedade brasileira tenha se desenvolvido fundamentalmente no e a partir do campo a constituição
do processo educativo formal em nosso país subalternizou os sujeitos do campo, as sociabilidades do
campo e o modo de vida campesino ao mesmo tempo em que hipervalorizou a urbanidade (que muitas
vezes foi usada como sinônimo da civilidade). Esta situação/condição nutriu e tem nutrido discussões
em busca da criação e do fortalecimento do movimento por uma Educação do Campo. Os sinais
da organização de grupos da sociedade em torno das questões da Educação do Campo começam a ser
notados mais efetivamente na década de 1990 quando os movimentos sociais do campo, apoiados na
Constituição de 1988 que institui a educação como “um direito de todos”, trazem para os fóruns de
discussão a necessidade de se constituir espaços que reflitam e valorizem os saberes e sociabilidades
dos povos do campo no Brasil, destacando o direito ao respeito e à adequação da educação às singularidades
culturais e regionais. Em nossa investigação nos indagamos sobre como têm se configurado
ou (re)constituído as narrativas e práticas identitárias associadas à expressão Educação do Campo?
A quais sujeitos e espaços se referem este projeto de educação? Nossa discussão se espraiará como
em um a ensaio teórico, sem muita restrição bibliografia ou terminológica ou de categorias analíticas.
Com um tema proposto de antemão – o diálogo entre a educação e o Campo brasileiros - nos permitimos
seguir o curso do nosso pensamento e sentimento que tem por base nossa vivência social e acadêmica.
O estudo nos permitiu dizer que na constituição do nosso sistema de educação formal foram
sendo, ao longo do tempo, apagados dos pressupostos teóricos, da metodologia e da finalidade/objetivo
da educação as referências relativas aos sujeitos e a vida do/no campo. É importante ressaltar,
no entanto, que houve muita resistência a esse processo. Por exemplo, a criação dos sindicatos rurais
(1934), da ASSESOAR (1966), das Casas Familiares Rurais e Escolas Famílias Agrícolas (1981), do
MST (1984), etc. Essa resistência se nutre, sobretudo, do fato de a dinâmica da vida campestre ter
influenciado e inspirado profundamente, ao longo de toda a história de nosso país, a constituição das
nossas identidades e diferenças. Ela marcou fortemente nossa literatura, nossa música, nossa língua,
nossa religião, nossa arte, nosso imaginário e nossa vida prática.
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