LINFO-HISTIOCITOSE HEMOFAGOCÍTICA: UM RELATO DE CASO

Introdução: A linfo-histiocitose hemofagocítica (LHH) é uma doença potencialmente letal, resultante da ativação intensa de linfócitos e histiócitos, com inflamação descontrolada, e ativação generalizada de macrófagos que fagocitam células hematopoiéticas saudáveis. Isso decorre de falha no controle...

Full description

Bibliographic Details
Main Authors: FN Melo, JPL Puppin, PG Lorente
Format: Article
Language:English
Published: Elsevier 2023-10-01
Series:Hematology, Transfusion and Cell Therapy
Online Access:http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2531137923019326
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author FN Melo
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description Introdução: A linfo-histiocitose hemofagocítica (LHH) é uma doença potencialmente letal, resultante da ativação intensa de linfócitos e histiócitos, com inflamação descontrolada, e ativação generalizada de macrófagos que fagocitam células hematopoiéticas saudáveis. Isso decorre de falha no controle inibitório dos linfócitos T citotóxicos, com produção excessiva de citocinas pró-inflamatórias e acúmulo sistêmico de células T e macrófagos ativados. A LHH pode ser hereditária ou adquirida, esta última mais comum em homens e relacionada a infecções (sendo EBV a mais comum), neoplasias, doenças autoimunes ou imunossupressão. Relato de caso: Paciente de 33 anos, masculino, chega ao ambulatório de Hematologia do HC-FMUSP após internação no Instituto Central do HC-FMUSP de 13/05/2022 a 20/07/2022, por complicações relacionadas à AIDS, investigando pancitopenia e linfonodomegalia cervical e axilar. Na internação, recebeu transfusões de concentrado de hemácias e aféreses de plaquetas, melhorando quadro com etoposídeo. Após alta, retorna em 3 dias para nova admissão com dor em hipocôndrio esquerdo, em pressão, que piorava ao decúbito e à inspiração profunda, e melhorava ao pressionar o local, com febre de 38°C. Cursou com hepatoesplenomegalia, plaquetopenia, icterícia, recidiva de síndrome hemofagocítica evidenciada em mielograma, provável síndrome de lise tumoral, e injúria renal aguda. Em biopsia excisional de linfonodo inguinal, obteve laudo anatomopatológico de sarcoma de Kaposi, iniciando tratamento com etoposídeo. Permaneceu internado até 20/07/2022. Consultou-se na Infectologia e na Hematologia do HC-FMUSP em 01/10/2022, com dor epigástrica irradiando para abdome, em pontada, com início na noite anterior, sem melhora ao uso de analgésicos e codeína. Em atendimento no ICESP, iniciou tratamento para Kaposi em 15/09/2022 com doxorrubicina. Relata surgimento progressivo das lesões. Em 02/11/2022, retorna com náuseas, vômitos, fadiga, tosse seca e palpitação, de início há 7 dias, junto a febre nos 3 últimos dias, e evolui com dor torácica em hemitórax esquerdo inspiratório-dependente. Refere contato com adenovírus, e conjuntivite há 15 dias. Apresentava desconforto respiratório, mal-estar geral, taquipneia, uso de musculatura abdominal e tiragem intercostal, pressão arterial de 110 × 70 mmHg, temperatura axilar de 37,4°C e taquicardia. Taquipneia e saturação de 90%, melhorando apenas com máscara não reinalante 10 L/min, mas mantendo desconforto respiratório. Na UTI, foi realizada intubação orotraqueal. O paciente veio a óbito em 06/11/2022, por choque séptico, como consequência de uma pneumonia oportunizada pelo quadro de AIDS. Discussão: A síndrome linfohistiocitose hemofagocítica, caracterizada por hiper-ativação de linfócitos T e macrófagos, inflamação sistêmica e fagocitose de células hematopoiéticas, é uma doença rápida e fatal e de diagnóstico precoce essencial, apesar dos sintomas vagos. Para diagnóstico, são necessários 5 de 8 critérios: febre, citopenia em duas linhagens, esplenomegalia, hipertrigliceridemia, hemofagocitose em medula óssea, células NK inativas, hiperferritinemia e aumento de IL-2R. Febre de origem obscura com hepatoesplenomegalia é quase sempre presente. Excluir câncer hematológico e identificar pacientes de risco é crucial. Conclusão: O relato mostra um paciente com HIV e altas cargas de EBV, com evolução fatal por reativação da LHH. Em casos como esse, tal suspeita diagnóstica deve ser considerada, dado os fatores de risco,para iniciar tratamento precoce e evitar prognósticos desfavoráveis.
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