Sacrifício rei, estado ruandês e genocídio

Em contraste com as análises do genocídio ruandês de 1994, que privilegiam o político, este artigo sustenta que o poder e a política durante o tempo que precedeu o genocídio foram afetadas por noções ruandesas específicas de cosmologia e ontologia. Para entender esse componente "imaginário"...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Christopher C. Taylor
Format: Article
Language:English
Published: Universidade Federal da Bahia - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Centro de Recursos Humanos
Series:Caderno CRH
Subjects:
Online Access:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-49792011000100005&lng=en&tlng=en
_version_ 1818892207187296256
author Christopher C. Taylor
author_facet Christopher C. Taylor
author_sort Christopher C. Taylor
collection DOAJ
description Em contraste com as análises do genocídio ruandês de 1994, que privilegiam o político, este artigo sustenta que o poder e a política durante o tempo que precedeu o genocídio foram afetadas por noções ruandesas específicas de cosmologia e ontologia. Para entender esse componente "imaginário" da violência, precisamos examinar atentamente as crenças e práticas relacionadas com a instituição da realeza sagrada em Ruanda. Embora essas crenças e práticas foram oficialmente encerradas em 1931, quando o último rei de Ruanda sagrado foi deposto e substituído por seu filho educado por missionários, a sua matriz cosmológica manteve-se em tempos recentes. Isto pode ser visto na literatura popular de rua Ruandesa, que circulou amplamente nos dias que antecederam o genocídio. Nessa literatura, o então presidente Juvenal Habyarimana era comparado explicitamente a um rei ruandês. Mais importante ainda para os objetivos deste artigo, foi a comparação mais difusa, implícita, e simbólica entre Habyarimana e um rei sagrado. Em particular, alguns dos elementos-chave neste simbolismo iluminam (e mostram a importância da persistência) da imagem de como um rei (ou presidente) deveria se comportar. Como havia muitos jornalistas ruandeses reacionários (e racistas) que tinham começado a duvidar da capacidade do presidente Habyarimana de ser um "bom rei", seu "sacrifício"'subseqüente estava, em um sentido simbólico, fortemente predestinado.
first_indexed 2024-12-19T17:53:02Z
format Article
id doaj.art-134e71034b70468b891ce0c9d0a92723
institution Directory Open Access Journal
issn 1983-8239
language English
last_indexed 2024-12-19T17:53:02Z
publisher Universidade Federal da Bahia - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Centro de Recursos Humanos
record_format Article
series Caderno CRH
spelling doaj.art-134e71034b70468b891ce0c9d0a927232022-12-21T20:11:53ZengUniversidade Federal da Bahia - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Centro de Recursos HumanosCaderno CRH1983-82392461637910.1590/S0103-49792011000100005S0103-49792011000100005Sacrifício rei, estado ruandês e genocídioChristopher C. Taylor0University of VirginiaEm contraste com as análises do genocídio ruandês de 1994, que privilegiam o político, este artigo sustenta que o poder e a política durante o tempo que precedeu o genocídio foram afetadas por noções ruandesas específicas de cosmologia e ontologia. Para entender esse componente "imaginário" da violência, precisamos examinar atentamente as crenças e práticas relacionadas com a instituição da realeza sagrada em Ruanda. Embora essas crenças e práticas foram oficialmente encerradas em 1931, quando o último rei de Ruanda sagrado foi deposto e substituído por seu filho educado por missionários, a sua matriz cosmológica manteve-se em tempos recentes. Isto pode ser visto na literatura popular de rua Ruandesa, que circulou amplamente nos dias que antecederam o genocídio. Nessa literatura, o então presidente Juvenal Habyarimana era comparado explicitamente a um rei ruandês. Mais importante ainda para os objetivos deste artigo, foi a comparação mais difusa, implícita, e simbólica entre Habyarimana e um rei sagrado. Em particular, alguns dos elementos-chave neste simbolismo iluminam (e mostram a importância da persistência) da imagem de como um rei (ou presidente) deveria se comportar. Como havia muitos jornalistas ruandeses reacionários (e racistas) que tinham começado a duvidar da capacidade do presidente Habyarimana de ser um "bom rei", seu "sacrifício"'subseqüente estava, em um sentido simbólico, fortemente predestinado.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-49792011000100005&lng=en&tlng=ensymbolismRwandan genocidesacred kingship
spellingShingle Christopher C. Taylor
Sacrifício rei, estado ruandês e genocídio
Caderno CRH
symbolism
Rwandan genocide
sacred kingship
title Sacrifício rei, estado ruandês e genocídio
title_full Sacrifício rei, estado ruandês e genocídio
title_fullStr Sacrifício rei, estado ruandês e genocídio
title_full_unstemmed Sacrifício rei, estado ruandês e genocídio
title_short Sacrifício rei, estado ruandês e genocídio
title_sort sacrificio rei estado ruandes e genocidio
topic symbolism
Rwandan genocide
sacred kingship
url http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-49792011000100005&lng=en&tlng=en
work_keys_str_mv AT christopherctaylor sacrificioreiestadoruandesegenocidio