Summary: | A condição essencial de Ahasverus, judeu condenado por Jesus durante a sua crucificação, é vagar eternamente. Quando se apropria desse mito, Samuel Rawet constrói uma novela em que a metamorfose é a base da errância. No ápice das mudanças, no corpo dessa narrativa maior, alteração e gozo se confundem e resultam em uma micronarrativa de três tipos populares, um mendigo, um entalhador e um vendedor de cocadas. Seis anos mais tarde, o escritor reelabora a micronarrativa e a publica com o título de “Trio”. Diante de tal quadro, o texto apresenta o conto como fruto de uma das metamorfoses do mito de Ahasverus. Evidencia, para isso, que as peças narrativas de Rawet materializam a errância e a procura como passos da pesquisa estética e do projeto literário do escritor. Conclui, por fim, que a imaginação erótica se funde a esse projeto da repetição como método de composição literária. O resultado pode ser lido, entre tantas outras coisas, como resposta à acusação de hermetismo que o escritor sempre recebeu por uma parte de sua recepção crítica.
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