“Sou uma onça, devoro humanidades”: ritualizações antropofágicas em educações matemáticas

À espreita, alguns matemáticos se movimentam, de forma coordenada, e saem em expedição pela mata. Com seu olhar externo e desejo de captura, contemplam a natureza de uma Matemática pura, universal, onipresente, produtora de riqueza. Estáticos, mal conseguem perceber as demais formas de vida que coe...

Full description

Bibliographic Details
Main Authors: Diego Matos, Fellipe Coelho, Carolina Tamayo
Format: Article
Language:Portuguese
Published: Sociedade Brasileira de Educação Matemática 2023-01-01
Series:Revista de Educação Matemática
Subjects:
Online Access:https://www.revistasbemsp.com.br/index.php/REMat-SP/article/view/790
Description
Summary:À espreita, alguns matemáticos se movimentam, de forma coordenada, e saem em expedição pela mata. Com seu olhar externo e desejo de captura, contemplam a natureza de uma Matemática pura, universal, onipresente, produtora de riqueza. Estáticos, mal conseguem perceber as demais formas de vida que coexistem, na paisagem, e tomam um susto quando se deparam com alguém sendo devorado. Reivindicando a humanidade de seu grupo, determinam sub-humanidades e nomeiam os selvagens, ao bradarem: “educadores matemáticos são predadores”. Onças, tupinambás e caboclos se misturam nesse ritual antropofágico à beira do rio. Junto a eles, uma professora, estudantes da escola básica e uma sala de aula tentam atravessar a matemática. A lua fica avermelhada, sangra, pois alguém a persegue para devorá-la. Diante da iminência de devorarem a lua, a construção de uma mediatriz abre possibilidades para deglutir o outro e caminhar em busca de uma terra sem males. Neste artigo, comemos a humanidade da matemática e que constitui nosso próprio ser, para nos deixarmos alterar por quem devoramos. Dobrando a linguagem, assumimos nossa natureza predadora, na produção de educações matemáticas que tomem a experiência e a diferença como políticas de afirmação da vida.
ISSN:2526-9062