Summary: | Neste artigo, analiso a forma como aparecia o emprego do termo “punk” nos discursos dos anarcopunks do Rio de Janeiro em 1994-1995. Assim, pude constatar duas nuances: as expressões podiam variar desde uma matriz mais substantivada (definidora de uma forma de vestir, falar e comportar-se) até uma mais adjetivada (ser punk se torna um modulador de tom em relação a uma ideologia conscientemente apregoada pelo grupo, por exemplo: ser anarcopunk é ser anarquista de uma forma mais “essencialmente libertária”). Entretanto, no centro da escala semântica estava o compromisso ético de não ceder à padronização do consumo e às formas de representatividade política oferecidas na sociedade atual. Além disso, analisar a lógica cultural dos discursos identitários dos anarcopunks do Rio de Janeiro conduziu-me para uma questão de método: não há “punk” no singular, pois cada grupo ou indivíduo que se auto-intitula punk tem uma perspectiva singular sobre o que é “ser punk”. Assim, em vez de simplesmente descrever o seu discurso identitário e situá-lo superficialmente num “quadro social” ou num “quadro cultural”, busquei entender como era possível um grupo de jovens imaginar construir um paradigma identitário underground intocado pelo “sistema”. Por fim, demonstro que a mutabilidade – condição para uma suposta manutenção do punk como underground – tornava-o, na verdade, groundless. Ao chegar a tal conclusão, eu pude então demonstrar que a sua sociodinâmica identitária era análoga à lógica cultural de produção e consumo do capitalismo flexível.
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