Francis Bacon sob o olhar de Gilles Deleuze: a imagem como intensidade
O ensaio de Gilles Deleuze La logique de la sensation é texto que se detém principalmente na prática e na eficácia da imagem. A pintura de Francis Bacon é ali tomada como paradigma de modernidade ao investir contra os clichês expressivos e ao produzir imagem junto à brutalidade dos fatos, como um co...
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Published: |
Universidade Federal Fluminense
2007-12-01
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author | Osvaldo Fontes Filho |
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description | O ensaio de Gilles Deleuze La logique de la sensation é texto que se detém principalmente na prática e na eficácia da imagem. A pintura de Francis Bacon é ali tomada como paradigma de modernidade ao investir contra os clichês expressivos e ao produzir imagem junto à brutalidade dos fatos, como um contra-efeito do narrativo. Em uma obra que conjura todo modelo a representar, toda história a contar, “alguma coisa se passa”, explica Deleuze, “que define o funcionamento da pintura”. Algo se passa, tem lugar: o acontecimento de uma catástrofe e de uma histeria no ato de pintura que acomete a Figura de modo a transmitir uma potencial violência de reação e de expressão. O “Bacon” de Deleuze apresenta a realidade vivida em uma nova e não-convencional ordem de sensação.
Neste artigo, são comentados os modos como o filósofo interpreta os atos físicos da pintura de Bacon — marcas aleatórias, varredura da massa pictural, escansão das superfícies —, procedimentos que introduzem no mundo visual da figuração a variedade caótica dos fatos e sentidos. Mostra-se como as faces e as figuras contorcidas, distorcidas, escorchadas de Bacon recebem uma voz conceitual complementar no texto de Deleuze. Consequentemente, focaliza-se a disposição de alguns conceitos do filósofo: diagrama, Figura, diferença, espaço háptico. Locados no espaço afetivo ou na “lógica da sensação” da pintura baconiana, esses conceitos atribuem legitimidade ao entrelaçamento e à co-implicação entre arte e filosofia.
Uma última observação dá conta do fato de a prática da imagem em Bacon, apresentada por Deleuze no palco de uma modernidade particularmente solapada por um “dilúvio anestésico de imagens reprimindo a possibilidade de pensar”, evidenciar para o filósofo os rumos necessariamente sinuosos, “reptilíneos”, do pensamento moderno. Tanto o conceito como a forma criam por catástrofe, por conflagração, por variações alotrópicas. |
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publisher | Universidade Federal Fluminense |
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spelling | doaj.art-25b7e5799ec04f769cb9ea8e0acf79aa2022-12-21T22:53:23ZporUniversidade Federal FluminenseViso1981-40622007-12-0113709010.22409/1981-4062/v3i/4848Francis Bacon sob o olhar de Gilles Deleuze: a imagem como intensidadeOsvaldo Fontes Filho0Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)O ensaio de Gilles Deleuze La logique de la sensation é texto que se detém principalmente na prática e na eficácia da imagem. A pintura de Francis Bacon é ali tomada como paradigma de modernidade ao investir contra os clichês expressivos e ao produzir imagem junto à brutalidade dos fatos, como um contra-efeito do narrativo. Em uma obra que conjura todo modelo a representar, toda história a contar, “alguma coisa se passa”, explica Deleuze, “que define o funcionamento da pintura”. Algo se passa, tem lugar: o acontecimento de uma catástrofe e de uma histeria no ato de pintura que acomete a Figura de modo a transmitir uma potencial violência de reação e de expressão. O “Bacon” de Deleuze apresenta a realidade vivida em uma nova e não-convencional ordem de sensação. Neste artigo, são comentados os modos como o filósofo interpreta os atos físicos da pintura de Bacon — marcas aleatórias, varredura da massa pictural, escansão das superfícies —, procedimentos que introduzem no mundo visual da figuração a variedade caótica dos fatos e sentidos. Mostra-se como as faces e as figuras contorcidas, distorcidas, escorchadas de Bacon recebem uma voz conceitual complementar no texto de Deleuze. Consequentemente, focaliza-se a disposição de alguns conceitos do filósofo: diagrama, Figura, diferença, espaço háptico. Locados no espaço afetivo ou na “lógica da sensação” da pintura baconiana, esses conceitos atribuem legitimidade ao entrelaçamento e à co-implicação entre arte e filosofia. Uma última observação dá conta do fato de a prática da imagem em Bacon, apresentada por Deleuze no palco de uma modernidade particularmente solapada por um “dilúvio anestésico de imagens reprimindo a possibilidade de pensar”, evidenciar para o filósofo os rumos necessariamente sinuosos, “reptilíneos”, do pensamento moderno. Tanto o conceito como a forma criam por catástrofe, por conflagração, por variações alotrópicas.http://revistaviso.com.br/ojs/index.php/viso/article/view/48pinturaintensidadeimagemdeleuzebacon |
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