A polissemia (social) do deserto: uma história do tópos histórico e historiográfico da solidão monástica no contexto latino medieval
O que seria dos monges sem o isolamento? Se as formas de vida monásticas são diversas ao longo do tempo, a presença de um ideal penitencial de separação, de abandono e mesmo de desprezo do mundo é marca constante entre os monges do mundo latino medieval. Essa pluralidade de modalidades de isolamento...
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Published: |
Universidade de São Paulo
2015-12-01
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author | Gabriel C.G. Castanho |
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spelling | doaj.art-341747a5faae4b8bae4cacc54427e4412023-01-03T08:12:15ZengUniversidade de São PauloRevista de História0034-83092316-91412015-12-0117310.11606/issn.2316-9141.rh.2015.10563394139A polissemia (social) do deserto: uma história do tópos histórico e historiográfico da solidão monástica no contexto latino medievalGabriel C.G. Castanho0Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ – BrasilO que seria dos monges sem o isolamento? Se as formas de vida monásticas são diversas ao longo do tempo, a presença de um ideal penitencial de separação, de abandono e mesmo de desprezo do mundo é marca constante entre os monges do mundo latino medieval. Essa pluralidade de modalidades de isolamento levou parte da historiografia a compreender a solidão monástica exclusivamente como um desejo religioso de relação direta e solitária do monge com Deus. Ainda que apareça na documentação, essa vontade representa apenas o aspecto mais superficial da definição medieval de solidão. O presente artigo visa demonstrar que esta visão historiográfica parcial é tributária da revalorização medieval de alguns lugares comuns da retórica clássica e bíblica. Constatação não sem importância, uma vez que ela nos abre um novo horizonte analítico ainda não explorado pelos estudos monásticos: a função social da solidão medieval. Metodologicamente, o artigo propõe o exame das relações lexicais dinâmicas presentes no campo semântico da solidão medieval. Ao final de nosso percurso teremos demonstrado que o deserto latino é, antes de tudo, o resultado da transferência da noção oriental para o ocidente. Uma transferência que coloca a solidão sob o controle de especialistas do isolamento cristão, tais como eremitas e monges. Esses reivindicam para si o monopólio da ocupação de um espaço de solidão: o eremus. Por fim, o presente artigo defende que a noção latinizada de solidão, bem como a polissemia do desertum bíblico, implica uma concepção “territorializada” do espaço na medida em que os agentes sociais em questão pretendem exercer sua influência de forma exclusiva sobre este espaço.https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/105633SolidãoIdade MédiaSemântica histórica |
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