Summary: | Objetivos: Estabelecer um perfil clínico-epidemiológico dos pacientes infectados pelo HIV com alterações hematológicas benignas acompanhados no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle e analisar a relação entre os parâmetros de avaliação do status imunológico do paciente e a ocorrência destas alterações hematológicas. Material e métodos: Estudo transversal realizado entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021. Foram selecionados pacientes com alterações hematológicas benignas diagnosticadas após a confirmação da infecção por HIV. Os dados foram obtidos a partir dos prontuários, as frequências foram calculadas no software Microsoft Excel. Resultados: Amostra composta por 14 pacientes, sendo as características mais observadas: uso da TARV regular (85,8%), contagem de células CD4 igual ou superior a 200/mL (71,4%), carga viral indetectável (57,1%) e diagnóstico da infecção pelo HIV de tempo superior a 10 anos (50%). Foram encontradas alterações hematológicas de anemia (57,2%), bicitopenia (21,4%), pancitopenia (14,3%) e trombocitopenia (7,1%). A causa mais comum de anemia identificada foi a por deficiência de ferro (50%), seguida da induzida por uso de AZT (25%), ADC (12,5%) e carencial pós cirurgia bariátrica (12,5%). A bicitopenia teve como causas cirrose hepática (33,3%), deficiência de vitamina B12 (33,3%) e histoplasmose disseminada (33,3%). Identificou-se como causas de pancitopenia o uso de sulfadiazina (50%) e histoplasmose disseminada (50%). A trombocitopenia encontrada teve como causa uma PTI (100%). Discussão: A maior parte dos pacientes incluídos no estudo apresentavam tempo de diagnóstico da infecção pelo HIV superior a 10 anos, achados que estão de acordo com o estabelecido na literatura, de que as alterações hematológicas secundárias a infecção pelo HIV estariam diretamente relacionadas a progressão da doença no paciente, seja pela ocorrência de doenças oportunistas, ou pelo dano progressivo causado pelo vírus na hematopoiese. Em relação ao estado imunológico do paciente infectado pelo HIV, a maior parcela dos indivíduos apresentava carga viral indetectável e valores de CD4 superiores a 200 células/mL. Entretanto, segundo a literatura, a ocorrência de alterações hematológicas esta mais relacionada a maior replicação viral e presença de imunossupressão. Esta divergência pode ser atribuida a composição da amostra, que incluia pacientes em seguimento ambulatorial em serviço especializado, onde se observa melhor controle da doença. Quando avaliado o tipo de alteração hematológica encontrada, observou-se maior prevalência de anemia isolada, seguida de bicitopenia, pancitopenia e, por último, a trombocitopenia isolada. A predominancia de anemia e convergente com outros estudos da literatura. A PTI identificada no paciente desse estudo, segundo a literatura, se deve provavelmente a um mecanismo autoimune e seu aparecimento e mais frequente nos estágios iniciais da infecção pelo vírus, em contraponto com o achado do presente estudo. Conclusão: Este estudo sugere uma possível correlação entre a evolução da doença pelo HIV e o desenvolvimento de alterações hematológicas, principalmente em relação as alterações combinadas de bicitopenia e pancitopenia. Apesar da pequena amostra do estudo, a sua comparação com outros estudos contribui para a hipótese de que o desenvolvimento de anemia, trombocitopenia e neutropenia no indivíduo infectado pelo HIV tem origem multifatorial, sendo importante o monitoramento desses pacientes para rápida identificação e tratamento precoce destas alterações.
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