Sobre farpas e espinhos: dimensões tensivas de discursos xamânicos Hupd'äh e Desana

Sentados numa roda para o consumo de coca, benzedores Hupd’äh e Desano conversavam, em língua Tukano, sobre o encantamento do espinho patogênico. Habitantes da região do Alto Rio Negro-AM, os interlocutores buscavam entender como curar um senhor enfermo atingido pela doença causada por espinhos de p...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Danilo Paiva Ramos
Format: Article
Language:English
Published: Universidade de São Paulo, Letras e Ciências Humanas 2019-04-01
Series:Estudos Semióticos
Subjects:
Online Access:http://www.revistas.usp.br/esse/article/view/151313
Description
Summary:Sentados numa roda para o consumo de coca, benzedores Hupd’äh e Desano conversavam, em língua Tukano, sobre o encantamento do espinho patogênico. Habitantes da região do Alto Rio Negro-AM, os interlocutores buscavam entender como curar um senhor enfermo atingido pela doença causada por espinhos de patauá que sofria com fortes dores nas pernas. Tendo como referência o campo de debates sobre o multilinguísmo e contato linguístico no Alto Rio Negro-AM, o presente trabalho parte da comparação estabelecida pelos próprios enunciadores entre versões em língua Hup e Desana de encantamentos xamânicos. A aproximação entre a etnografia da fala e a semiótica tensiva permite mostrar como padrões formais e temáticos contribuem para diluir a carga tensiva de acontecimentos que evidenciam comunicações e interações sociocosmicas. A análise permite a descrição do gênero verbal “benzimento” como sendo marcado por enquadramentos espaço-temporais que relacionam a mobilidade sociocosmica, a tradução de pontos de vista e a comunicação intercultural e interespecífica com animais, plantas e espíritos. Pretende-se, assim, evidenciar em que medida tomar o discurso xamânico como uma matriz de difusão linguística pode ser fundamental para entender melhor as dinâmicas e processos de contato e mudança linguísticas no Alto Rio Negro.
ISSN:1980-4016