Summary: | Ao longo da tradição ocidental, a “estranheza” foi, desde Chklóvski e do formalismo russo até Derrida, uma das caracterizações de literatura. Em Demorar, o filósofo diz que “literatura” é um nome e que pertence a uma língua: “Literatura é uma palavra latina”. Mas esse pertencimento é problematizado. Se, para os formalistas e herdeiros do formalismo, o “estranhamento”, como modalizador para pensar a literatura, esteve a serviço de uma autonomia, a pergunta que Derrida nos move a fazer é “existe alguma coisa não europeia nessa estranha instituição chamada literatura?”. Com as recentes noções de “heteronomia”, de Florencia Garramuño, e de “pós-autonomia”, de Josefina Ludmer, a estranheza se passa por uma latinidade que não assegura uma autonomia. Interrogando, ainda, o que é estranho à latinidade, o termo “oralitura”, de Leda Maria Martins, tensiona outros modos de nomear. O objetivo deste ensaio é pensar como esse vínculo entre literatura e latinidade, pelo operador da estranheza, relê e transforma o paradigma europeu colonial de literatura, em que a estranheza da latinidade, ao contrário de atestar uma autonomia, dá testemunho de uma não-pertença e de uma invenção de um comum que se passa pela perda da superioridade tradicionalmente atribuída ao literário.
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