Summary: | Resumo Neste texto, analisa-se a recepção da obra e legado de Mohandas Karamchand Gandhi no Portugal colonial do século XX. Verifica-se que é na imprensa progressista que se dá mais atenção a Gandhi - em particular pela sua faceta de destacado líder da independência indiana face ao jugo colonial inglês, mas também pelos seus princípios pacifistas, humanistas, de tolerância religiosa, fraternidade e igualdade. Recorre-se ao seu exemplo para falar da justeza da sua causa, mas também doutros temas (conexos ou não): emancipação da Índia portuguesa e questão colonial; relação entre civilizações e culturas; ingredientes duma política à escala planetária mais tolerante e dialogante. A recepção de Gandhi em Portugal foi amiúde um estratagema para fintar a censura política, num contexto de afirmação das correntes da autodeterminação dos povos, primeiro, e do anticolonialismo, depois. Grupos de activistas goeses e doutros pensadores progressistas interligaram distintas imprensas: a goesa emancipalista, a libertária, a demo-republicana (v.g., Seara Nova) e parte da católica. Alguns entraram em debate com autores nacionalistas, envolvendo outra imprensa na liça. Foi frequente que séries de artigos (e/ou conferências) originassem opúsculos ou livros, atestando a relevância desses escritos e abrindo o debate a novos auditórios. Além disso, foram publicadas traduções das memórias de Gandhi e de biografias de referência entre o pós-II Guerra Mundial e os anos 1960, o período de contenda acesa em torno da Índia portuguesa entre a nova União Indiana e o vetusto Portugal colonial. A cobertura de Gandhi e seu uso na questão goesa é mais um indicador a atestar a relevância pioneira da Índia portuguesa no que tange a discutir o fim do colonialismo português.
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