Racismo cordial ou autoritarismo espirituoso

O "Mito da Democracia Racial" é considerado um dispositivo ideológico de reprodução das relações raciais, impedindo sua tematização pública. Efetiva-se através de duas formas de discurso: o desconhecimento ideológico das relações raciais e o não-dito racista. O "Mito da Democracia Rac...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Ronaldo Sales Jr.
Format: Article
Language:Portuguese
Published: Fundação Joaquim Nabuco 2011-06-01
Series:Cadernos de Estudos Sociais
Online Access:https://fundaj.emnuvens.com.br/CAD/article/view/1386
_version_ 1818848401853251584
author Ronaldo Sales Jr.
author_facet Ronaldo Sales Jr.
author_sort Ronaldo Sales Jr.
collection DOAJ
description O "Mito da Democracia Racial" é considerado um dispositivo ideológico de reprodução das relações raciais, impedindo sua tematização pública. Efetiva-se através de duas formas de discurso: o desconhecimento ideológico das relações raciais e o não-dito racista. O "Mito da Democracia Racial" instaurou-se pelo deslocamento do discurso racial (racista ou não) do âmbito do discurso "serio" (argumentativo, racional, formal e público), constituindo o que estamos chamando aqui de desconhecimento ideológico. O desconhecimento não é "ausência" de conhecimento, ignorância passiva, mas, demarcadas as questões relevantes, marginaliza saberes tidos como irrelevantes, falsos problemas, sem-sentidos. O discurso racial, então, entrincheirou-se no discurso "vulgar" (aforismático, passional, informal e privado), através da forma do não-dito racista que se consolidou, intimamente ligado às relações "cordiais", paternalistas e patrimonialistas de poder, como um pacto de silêncio entre dominados e dominadores. O não-dito é uma técnica de dizer alguma coisa sem, contudo, aceitar a responsabilidade de tê-la dito, resultando daí a utilização pelo discurso racista de uma diversidade de recursos tais como implícitos, denegações, discursos oblíquos, figuras de linguagem, trocadilhos, chistes, frases feitas, provérbios, piadas e injúria racial. Palavras-Chave: Mito da Democracia Racial, Racismo Cordial, relações raciais, racismo, teoria do discurso, violência e República. The "Myth of Racial Democracy" is considered as an ideological device for reproducing racial relations by hindering its public discussion. Its actualization is based on two forms of discourse: the ideological unrecognizing of racial relations and the racist "unsaid". The "Myth of Racial Democracy" was established by the displacement of racial discourse (racist or not) from the domain of "serious discourse" (argumentative, rational, formal and public), thus constituting what we call here ideological unrecognizing. Such non-recognition does not mean an "absence" of knowledge or passive ignorance, but the marginalization of those types of knowledge considered as irrelevant, as false problems, as non sense, via the establishment of what constitutes the relevant issues. Racial discourse has been concealed by everyday discourse (aforismatic, passional, informal and private) with the consolidation of the racist "unsaid", itself, closely linked to "cordial", paternalistic and patrimonialistic power relations: a silence pact between dominators and the dominated. The unsaid is but a technique of saying something without having to accept the responsibility of having said it. Therefore, racist discourse makes use of a plethora of resources such as the implicit, oblique speech, figures of speech, puns, witticisms, commonplace sentences, proverbs, jokes and racial insults. Key Words: Mith of Racial Democracy, racial relations, racism, discourse theory, violence and Republic.
first_indexed 2024-12-19T06:16:46Z
format Article
id doaj.art-4e585181c83347b49bcb2ca5fba093e6
institution Directory Open Access Journal
issn 0102-4248
2595-4091
language Portuguese
last_indexed 2024-12-19T06:16:46Z
publishDate 2011-06-01
publisher Fundação Joaquim Nabuco
record_format Article
series Cadernos de Estudos Sociais
spelling doaj.art-4e585181c83347b49bcb2ca5fba093e62022-12-21T20:32:49ZporFundação Joaquim NabucoCadernos de Estudos Sociais0102-42482595-40912011-06-01231-2Racismo cordial ou autoritarismo espirituosoRonaldo Sales Jr.O "Mito da Democracia Racial" é considerado um dispositivo ideológico de reprodução das relações raciais, impedindo sua tematização pública. Efetiva-se através de duas formas de discurso: o desconhecimento ideológico das relações raciais e o não-dito racista. O "Mito da Democracia Racial" instaurou-se pelo deslocamento do discurso racial (racista ou não) do âmbito do discurso "serio" (argumentativo, racional, formal e público), constituindo o que estamos chamando aqui de desconhecimento ideológico. O desconhecimento não é "ausência" de conhecimento, ignorância passiva, mas, demarcadas as questões relevantes, marginaliza saberes tidos como irrelevantes, falsos problemas, sem-sentidos. O discurso racial, então, entrincheirou-se no discurso "vulgar" (aforismático, passional, informal e privado), através da forma do não-dito racista que se consolidou, intimamente ligado às relações "cordiais", paternalistas e patrimonialistas de poder, como um pacto de silêncio entre dominados e dominadores. O não-dito é uma técnica de dizer alguma coisa sem, contudo, aceitar a responsabilidade de tê-la dito, resultando daí a utilização pelo discurso racista de uma diversidade de recursos tais como implícitos, denegações, discursos oblíquos, figuras de linguagem, trocadilhos, chistes, frases feitas, provérbios, piadas e injúria racial. Palavras-Chave: Mito da Democracia Racial, Racismo Cordial, relações raciais, racismo, teoria do discurso, violência e República. The "Myth of Racial Democracy" is considered as an ideological device for reproducing racial relations by hindering its public discussion. Its actualization is based on two forms of discourse: the ideological unrecognizing of racial relations and the racist "unsaid". The "Myth of Racial Democracy" was established by the displacement of racial discourse (racist or not) from the domain of "serious discourse" (argumentative, rational, formal and public), thus constituting what we call here ideological unrecognizing. Such non-recognition does not mean an "absence" of knowledge or passive ignorance, but the marginalization of those types of knowledge considered as irrelevant, as false problems, as non sense, via the establishment of what constitutes the relevant issues. Racial discourse has been concealed by everyday discourse (aforismatic, passional, informal and private) with the consolidation of the racist "unsaid", itself, closely linked to "cordial", paternalistic and patrimonialistic power relations: a silence pact between dominators and the dominated. The unsaid is but a technique of saying something without having to accept the responsibility of having said it. Therefore, racist discourse makes use of a plethora of resources such as the implicit, oblique speech, figures of speech, puns, witticisms, commonplace sentences, proverbs, jokes and racial insults. Key Words: Mith of Racial Democracy, racial relations, racism, discourse theory, violence and Republic.https://fundaj.emnuvens.com.br/CAD/article/view/1386
spellingShingle Ronaldo Sales Jr.
Racismo cordial ou autoritarismo espirituoso
Cadernos de Estudos Sociais
title Racismo cordial ou autoritarismo espirituoso
title_full Racismo cordial ou autoritarismo espirituoso
title_fullStr Racismo cordial ou autoritarismo espirituoso
title_full_unstemmed Racismo cordial ou autoritarismo espirituoso
title_short Racismo cordial ou autoritarismo espirituoso
title_sort racismo cordial ou autoritarismo espirituoso
url https://fundaj.emnuvens.com.br/CAD/article/view/1386
work_keys_str_mv AT ronaldosalesjr racismocordialouautoritarismoespirituoso