Summary: | “Minhas reivindicações? Liberdade” (Andrade 2019: 11). Em meio ao processo de modernização de São Paulo, processo repleto de contradições e conflitos, Mário de Andrade publica sua Pauliceia desvairada, obra complexa, que articula elementos da cultura de massa e da cultura popular para elaborar uma arte de vanguarda brasileira. Neste trabalho, propomos que o livro de 1922, tão próximo da lógica e da estética da reprodutibilidade técnica, pode ser entendido como uma via de estudo da emergência do kitsch no Brasil. Essa proposição se sustenta pela leitura de alguns poemas e do Prefácio interessantíssimo, mas também se ampara na elaboração teórica feita em A escrava que não é Isaura (1925) e no lançamento de Klaxon (1922). O que sobressai é a ambivalência das posições em jogo: em Mário de Andrade encontramos o desvairismo como defesa vanguardista e aristocrática de uma arte genuína; mas também notamos a emergência do kitsch, marcada pela sedução dos clichês e pelo mascaramento performático que, diante das massas, esvazia qualquer essência, dos sujeitos e dos objetos.
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