Summary: | Entre 1944 e 1945, o Brasil enviou um pequeno exército de 25 mil homens, a Força Expedicionária Brasileira (FEB), para combater as forças do Eixo na Segunda Guerra Mundial. Essa força foi caracterizada por ser a única combatente, em toda a guerra, que foi integrada, em termos raciais. Tão importante quanto a integração, a composição da FEB foi retratada, na época e na memória coletiva, como uma “amostra racial” do Brasil. Essa imagem de relações raciais harmônicas também ajudou a alimentar o mito da democracia racial. O objetivo deste artigo é revisar a formação racial da FEB, verificando a documentação disponível em arquivos militares e civis brasileiros e a historiografia recente. Este estudo conclui que a FEB, com ligeiras diferenças, reproduziu a estrutura racial da população brasileira em sua composição. No entanto, esse “caldeirão multiétnico e cultural” foi uma consequência não planejada do processo de recrutamento da divisão expedicionária, uma vez que o objetivo das autoridades do Exército era recrutar uma “elite”, com critérios de saúde física e alfabetização que poderiam ser excludentes para uma parte da juventude não branca. No entanto, devido às dificuldades de recrutamento seletivo e evasão de parte das classes média e alta, predominantemente brancas, foi enviado para a guerra uma tropa com origens raciais e culturais que pode ser considerada uma espécie de “amostra” da sociedade brasileira.
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