Summary: | Introdução/Objetivo: A Pneumonia Associada à Ventilação mecânica (PAV) é uma séria infecção relacionada à assistência à saúde e que aumenta o risco de morte. O objetivo deste trabalho é analisar, tendo como desfecho primário a mortalidade em 60 dias, a associação entre o critério microbiológico e o tratamento clínico de PAV. Métodos: Foram avaliados pacientes com suspeita clínica de PAV que receberam tratamento a partir de resultados de culturas positivas de aspirado traqueal em dois Centros de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) no período de março de 2022 a abril de 2023. O antibiograma foi realizado através de Vitek2ׄ, exceto pela Polimixina (microdiluição em caldo). O tempo médio entre coleta e resultado foi de 72h. Os pontos de corte utilizados se basearam no Brazilian Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing. Resultados: Foram identificados 79 aspirados traqueais positivos em 67 pacientes com média de 49,4 anos (±4,1; 95% IC). 93,7% dos aspirados evidenciaram bacilos gram negativos, sendo o complexo Acinetobacter baumanii, Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa as mais frequentes, respectivamente. 12 (17,91%) pacientes tiveram crescimento polimicrobiano. Quanto ao perfil de resistência, 27,2% das Pseudomonas spp. isoladas eram “Difficult to Treat” (DTR) e 96,5% dos isolados de A. baumanii eram resistentes a carbapenêmicos (CRAB). Os pacientes já se encontravam sob terapia de amplo espectro para gram negativos, sendo 55,2% sob o uso de meropeném. Após o resultado do antibiograma, a polimixina (32,8%), meropenem (28,4%), tigeciclina (23,9%) e ceftazidima-avibactam (17,9%) foram responsáveis por mais de 87% das prescrições. Ao todo, 49 (73,1%) receberam antimicrobianos que se mostraram resistentes após a identificação do perfil de sensibilidade. A mortalidade em 60 dias foi de 41,8%. Conclusão: Tendo em vista que 73% pacientes receberam antimicrobianos sem atividade baseado nos antibiogramas e menos da metade evoluiu para óbito, levantam-se questões: erro diagnóstico de PAV? resposta de sensibilidade in vivo diferente? tempo suficiente (72h) para alteração de antibiótico sem mudança no desfecho? ausência de infecção pelo microrganismo isolado? Necessitam-se mais estudos para estas respostas. Conclui-se que um melhor diagnóstico é desejável, com vistas a tratamento precoce, minimização de custos e efeitos colaterais, além de redução do uso indiscriminado de antimicrobianos.
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