As facções cariocas em perspectiva comparativa

Entre os especialistas em segurança pública, tornou-se lugar-comum a idéia de que a guerra do tráfico no Rio de Janeiro é totalmente única no Brasil. Porém, essa afirmação é imprecisa. Organizações de narcotráfico em muitos aspectos comparáveis às facções cariocas existem em outros contextos urbanos...

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Bibliographic Details
Main Author: Benjamin Lessing
Format: Article
Language:Portuguese
Published: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento 2008-03-01
Series:Novos Estudos CEBRAP
Subjects:
Online Access:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002008000100004
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description Entre os especialistas em segurança pública, tornou-se lugar-comum a idéia de que a guerra do tráfico no Rio de Janeiro é totalmente única no Brasil. Porém, essa afirmação é imprecisa. Organizações de narcotráfico em muitos aspectos comparáveis às facções cariocas existem em outros contextos urbanos. O que as diferencia é menos a capacidade de estabelecer o monopólio local sobre o comércio de drogas do que a resiliência da sua estrutura interna e, portanto, a duração da sua existência e dominação. Durante uma pesquisa de campo em nove comunidades de periferia de três cidades, observei não apenas uma alta variação nos graus de concentração entre os mercados locais de drogas, mas também de variação com o tempo dentro da mesma comunidade. Desta perspectiva, a estabilidade do mercado de drogas altamente concentrado do Rio de Janeiro pode ser visto como um equilíbrio único, no qual as forças de fragmentação operantes em outras cidades são neutralizadas por características específicas das facções cariocas. O meu argumento é o de que tais características decorrem do domínio exercido pelas facções sobre o sistema penitenciário desde antes do início da sua expansão para o comércio de drogas.<br>It has become a commonplace that Rio de Janeiro’s guerra do tráfico is entirely unique within Brazil. In fact, this is inaccurate. Drug trafficking organizations that in many respects resemble Rio’s facções do exist in other urban contexts. What differentiates them is less the ability to establish a local monopoly on the drug trade than the resilience of their internal structure, and consequently the duration of their existence and domination. During field research in nine peripheral communities in three cities, I observed not only high variation in the degree of concentration between local drug markets, but also variation over time within single communities. In this light, the stability of Rio’s highly concentrated drug market can be seen as a unique equilibrium in which the fragmentary forces at work in other cities are neutralized by specific traits of Rio’s factions. These traits, I argue, stem from the dominion these factions have exerted over the state’s prison system since before the period of their original expansion into the drug trade.
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