Ação da Musculatura Adutora da Mandíbula em Dicinodontes Triássicos do Sul do Brasil

São conhecidos, com segurança, três diferentestáxons de dicinodontes para o Triássico doRio Grande do Sul, representados pelos gênerosStahleckeria Huene, 1934, Dinodontosaurus Romer,1943 e Jachaleria Bonaparte, 1970. Dinodontosauruse Stahleckeria coexistiram temporalmente naCenozona de Therapsida (M...

Full description

Bibliographic Details
Main Authors: Leonardo Morato, Cesar Leandro Schultz, Cristina Vega-Dias
Format: Article
Language:English
Published: Universidade Federal do Rio de Janeiro 2007-07-01
Series:Anuário do Instituto de Geociências
Online Access:http://www.anuario.igeo.ufrj.br/anuario_2007_1/2007_1_comunic_236_237.pdf
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description São conhecidos, com segurança, três diferentestáxons de dicinodontes para o Triássico doRio Grande do Sul, representados pelos gênerosStahleckeria Huene, 1934, Dinodontosaurus Romer,1943 e Jachaleria Bonaparte, 1970. Dinodontosauruse Stahleckeria coexistiram temporalmente naCenozona de Therapsida (Mesotriássico, Ladiniano)enquanto Jachaleria era a única forma de dicinodontena Cenozona de Mamaliamorpha (Neotriássico,Eonoriano?). Dos três, apenas Dinodontosaurusapresenta o par de presas caniniformes que caracterizao grupo, sendo as demais formas totalmenteedentadas, mas esta característica está mais provavelmentevinculada à ornamentação e não interferena discussão mecânica aqui proposta. A robustez dasmandíbulas e a eficiência da musculatura empregadano ciclo mastigatório podem ser reflexos do grau deprocessamento oral e da resistência do material a seringerido. Nesse sentido, os três taxa de dicinodontessupracitados foram comparados quanto às variaçõesda morfologia craniana, discutindo os modos comque estas afetam o comprimento das fibras muscularese os ângulos de inserção da musculatura nas mandíbulas,indicando a dimensão dos braços de alavancadas forças exercidas por esses músculos em relaçãoà articulação crânio-mandibular. Assim, pode-seter um quadro das vantagens mecânicas de diferentesarranjos musculares. Optou-se por realizar umaanálise da ação da mandíbula como um corpo livre,tratando todas as mandíbulas com o mesmo comprimento,a fim de que a dimensão do braço de alavancadas forças executadas pelos diferentes músculosseja um reflexo direto de suas vantagens mecânicas,quando comparados os mesmos músculos entre doisanimais. Quanto maior o braço de alavanca de umconjunto muscular de um animal em relação a outro,menor o esforço necessário para o primeiro executara ação. Utilizando como referência uma orientaçãohorizontal do palato e basicrânio, ao compararem-seos crânios dos três taxa de dicinodontes, nota-se queJachaleria apresenta uma conformação de crâniomais baixa e esguia, embora sua região temporal sejabem desenvolvida, apresentando um suspensório relativamentealto em comparação a Dinodontosaurus.Esse último difere ainda de Jachaleria no sentido depossuir um rostro mais encurtado, em direção antero-posterior, e recurvado ventralmente. Stahleckerianão chega a apresentar grande ventralização do rostro,no mesmo grau que ocorre em Dinodontosaurus,mas apresenta um maior recuo da região rostral,além de um encurtamento também da região temporal,que é compensado pela elevação da crista sagital.Assim, os ângulos de atuação da musculaturaadutora de Jachaleria são geralmente mais baixos,em comparação a Dinodontosaurus e Stahleckeria,apresentando melhor aproveitamento de forçasapenas na retração da mandíbula. Stahleckeria pareceprivilegiar os componentes verticais das forçasaplicadas na mandíbula e o fato das inserçõesmusculares serem mais posteriores do que nos outrosgêneros as tornam também mais eficientes paraincrementar a velocidade angular em que a mandíbulaserá elevada. Por hora, é seguro afirmar apenasque os dicinodontes triássicos do Brasil apresentamadaptações mastigatórias distintas, que devem estarrelacionadas com o consumo de diferentes tipos devegetais. Em Jachaleria, a mandíbula alongada ebaixa, provavelmente menos resistente a flexões dorso-ventrais, associada a um maior aproveitamentode forças ântero-posteriores, sugere que esse táxonera adaptado ao corte de alimentos mais brandos.Stahleckeria representava o extremo oposto, comum crânio robusto, uma mordida rápida e predomíniode forças verticais. Dinodontosaurus se caracterizapor uma situação intermediária entre esses doisgêneros, embora mais próximo de Stahleckeria, doqual diferia por inserções musculares mais anteriores,que aproveitavam melhor a força gerada pelosmúsculos em detrimento à velocidade angular defechamento da mandíbula. Alterações angulares namusculatura adutora, semelhantes às observadas entreJachaleria e Dinodontosaurus, também ocorrem,de certo modo, entre juvenis e adultos desse últimogênero. Porém o rearranjo do comprimento relativodo rostro com o das estruturas da região temporal, nodesenvolvimento dos diferentes estágios ontogenéticosanalisados, acaba resultando em braços de alavancasemelhantes para a atuação de seus músculosadutores. Nesses estágios, portanto, as musculaturassão igualmente eficientes para realizar a elevação damandíbula. Os filhotes poderiam aplicar menor forçana mastigação, simplesmente por serem menores e,por conseguinte, apresentarem menos massa muscular(com menor área de seção transversal). Talvezpor isso, em alguma fase ao menos, eles poderiam sealimentar de vegetação mais branda, ou receberiamo alimento pré-mastigado por seus pais.
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Dos três, apenas Dinodontosaurusapresenta o par de presas caniniformes que caracterizao grupo, sendo as demais formas totalmenteedentadas, mas esta característica está mais provavelmentevinculada à ornamentação e não interferena discussão mecânica aqui proposta. A robustez dasmandíbulas e a eficiência da musculatura empregadano ciclo mastigatório podem ser reflexos do grau deprocessamento oral e da resistência do material a seringerido. Nesse sentido, os três taxa de dicinodontessupracitados foram comparados quanto às variaçõesda morfologia craniana, discutindo os modos comque estas afetam o comprimento das fibras muscularese os ângulos de inserção da musculatura nas mandíbulas,indicando a dimensão dos braços de alavancadas forças exercidas por esses músculos em relaçãoà articulação crânio-mandibular. Assim, pode-seter um quadro das vantagens mecânicas de diferentesarranjos musculares. Optou-se por realizar umaanálise da ação da mandíbula como um corpo livre,tratando todas as mandíbulas com o mesmo comprimento,a fim de que a dimensão do braço de alavancadas forças executadas pelos diferentes músculosseja um reflexo direto de suas vantagens mecânicas,quando comparados os mesmos músculos entre doisanimais. Quanto maior o braço de alavanca de umconjunto muscular de um animal em relação a outro,menor o esforço necessário para o primeiro executara ação. Utilizando como referência uma orientaçãohorizontal do palato e basicrânio, ao compararem-seos crânios dos três taxa de dicinodontes, nota-se queJachaleria apresenta uma conformação de crâniomais baixa e esguia, embora sua região temporal sejabem desenvolvida, apresentando um suspensório relativamentealto em comparação a Dinodontosaurus.Esse último difere ainda de Jachaleria no sentido depossuir um rostro mais encurtado, em direção antero-posterior, e recurvado ventralmente. Stahleckerianão chega a apresentar grande ventralização do rostro,no mesmo grau que ocorre em Dinodontosaurus,mas apresenta um maior recuo da região rostral,além de um encurtamento também da região temporal,que é compensado pela elevação da crista sagital.Assim, os ângulos de atuação da musculaturaadutora de Jachaleria são geralmente mais baixos,em comparação a Dinodontosaurus e Stahleckeria,apresentando melhor aproveitamento de forçasapenas na retração da mandíbula. Stahleckeria pareceprivilegiar os componentes verticais das forçasaplicadas na mandíbula e o fato das inserçõesmusculares serem mais posteriores do que nos outrosgêneros as tornam também mais eficientes paraincrementar a velocidade angular em que a mandíbulaserá elevada. Por hora, é seguro afirmar apenasque os dicinodontes triássicos do Brasil apresentamadaptações mastigatórias distintas, que devem estarrelacionadas com o consumo de diferentes tipos devegetais. Em Jachaleria, a mandíbula alongada ebaixa, provavelmente menos resistente a flexões dorso-ventrais, associada a um maior aproveitamentode forças ântero-posteriores, sugere que esse táxonera adaptado ao corte de alimentos mais brandos.Stahleckeria representava o extremo oposto, comum crânio robusto, uma mordida rápida e predomíniode forças verticais. Dinodontosaurus se caracterizapor uma situação intermediária entre esses doisgêneros, embora mais próximo de Stahleckeria, doqual diferia por inserções musculares mais anteriores,que aproveitavam melhor a força gerada pelosmúsculos em detrimento à velocidade angular defechamento da mandíbula. Alterações angulares namusculatura adutora, semelhantes às observadas entreJachaleria e Dinodontosaurus, também ocorrem,de certo modo, entre juvenis e adultos desse últimogênero. Porém o rearranjo do comprimento relativodo rostro com o das estruturas da região temporal, nodesenvolvimento dos diferentes estágios ontogenéticosanalisados, acaba resultando em braços de alavancasemelhantes para a atuação de seus músculosadutores. Nesses estágios, portanto, as musculaturassão igualmente eficientes para realizar a elevação damandíbula. Os filhotes poderiam aplicar menor forçana mastigação, simplesmente por serem menores e,por conseguinte, apresentarem menos massa muscular(com menor área de seção transversal). Talvezpor isso, em alguma fase ao menos, eles poderiam sealimentar de vegetação mais branda, ou receberiamo alimento pré-mastigado por seus pais.http://www.anuario.igeo.ufrj.br/anuario_2007_1/2007_1_comunic_236_237.pdf
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