Summary: | Um dos traços mais marcantes do cinema documentário é a sua vocação para tratar do outro, para ter a alteridade como centro de sua construção. Subjacente a esta última, há o evento sem o qual o filme não existe: o encontro entre o cineasta e as pessoas filmadas. Qualquer apreciação sobre as condições em que se deu esse encontro deve ter como pressuposto básico
que aquele que empunha a câmera detém um poder inquestionável sobre os sujeitos de sua mirada. Independentemente dos procedimentos de compartilhamento desse poder, em voga já há algum tempo, como distribuição de câmeras aos sujeitos observados, ou da bem mais antiga antropologia partilhada de Jean Rouch, em que o filme toma forma a partir da devolução às pessoas filmadas das imagens registradas e do diálogo que se estabelece entre elas e o cineasta, esse poder está sempre lá, pois, em sua quase totalidade, a edição final dos filmes fica nas mãos do realizador. É sobre essa relação de força e seus desdobramentos, e os aspectos éticos e estéticos a ela subjacentes, que nos debruçaremos.
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