Summary: | Por ocasião do comando da Política Externa Independente, o chanceler San Tiago Dantas utilizou a expressão “coexistência competitiva” em diferentes discursos, pronunciamentos e debates para fundamentar duas posições adotadas pelo Brasil em suas relações internacionais: a do restabelecimento das relações diplomáticas com a União Soviética e a do voto contrário ao isolamento de Cuba no hemisfério e à perspectiva de sua expulsão da Organização dos Estados Americanos (OEA). Esta referencia de S. T. Dantas inspirava-se, claramente, na política de “coexistência pacífica”, formulada por Chruschev no XX Congresso do PCUS de 1956 a qual, sublinhava a importância da distensão internacional e, reconhecia que o confronto entre os dois blocos (o socialista e o capitalista) não deveria constituir uma fatalidade histórica inevitável para os dois competidores. A proposta soviética da “coexistência” era a de considerar possível uma pacífica competição entre os dois sistemas na crença de que o socialismo demostrasse a todos os povos a sua superioridade e, deste modo, viesse a impor-se, principalmente, nos países industriais avançados pela via democrática e parlamentar. Para S. T. Dantas, o sentido da “coexistência competitiva” era o do desafio de colocar os dois mundos diferentes da Guerra Fria não apenas em contato, mas também em competição de modo a expor cada um deles à “influencia inevitável dos modelos, das realizações e das experiências processadas no outro”. Nesta apropriação específica do chanceler petebista e não diplomata, a política de coexistência competitiva deveria exercer na política interna brasileira um “permanente incentivo à reforma social, com a criação no seio da sociedade de pressões crescentes, que poderiam ser captadas para a modificação progressiva de sua estrutura, sem quebra da continuidade do regime democrático”. Assim, S. T. Dantas nos ofereceu, desde o início da década de 1960, dois exemplos virtuosos: a possibilidade de conceber e implementar um projeto coerente e articulado para a política interna e internacional do Brasil e, uma referencia positiva de politização da política externa brasileira com sua firme convicção de que a democracia associada às reformas sociais é, de todas as formas de governo, a que melhor resiste à confrontação e, portanto, a que melhor se impõe através da coexistência.
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