O comentário composicional enquanto meio de desvelar funcionalidades harmônicas latentes

Desde o abandono da tonalidade funcional entre 1908 e 1909, por parte de Schoenberg, Scriabin, Ives e outros, a questão sobre se a tonalidade não continuaria a participar subjacentemente de suas obras tem sido colocada por diversos autores. Frente a essa antiga discussão, o presente artigo objetiva...

Full description

Bibliographic Details
Main Authors: Francisco Zmekhol Nascimento de Oliveira, Max Packer
Format: Article
Language:English
Published: Associação Brasileira de Teoria e Análise Musical 2023-08-01
Series:Musica Theorica
Online Access:https://revistamusicatheorica.tema.mus.br/index.php/musica-theorica/article/view/254
Description
Summary:Desde o abandono da tonalidade funcional entre 1908 e 1909, por parte de Schoenberg, Scriabin, Ives e outros, a questão sobre se a tonalidade não continuaria a participar subjacentemente de suas obras tem sido colocada por diversos autores. Frente a essa antiga discussão, o presente artigo objetiva apresentar um procedimento analítico que entendemos ser particularmente adequado ao reconhecimento e à evidenciação, em obras tidas como pós-tonais, de relações funcionais locais e de larga escala que se deem a posteriori. Metodologicamente fundado (1) sobre um experimento do Harmonielehre de Schoenberg (1922) e (2) sobre a prática beriana do comentário composicional (Berio 2006), tal procedimento consiste, basicamente, em acrescentar à obra analisada (de resto intacta) uma linha instrumental que opere, em cada formação harmônica dissonante, preparações e resoluções que demonstrem como tal formação poderia ter acontecido ainda no seio de uma tonalidade pré-1908. Para além de que (1) relações funcionais se possam estabelecer a posteriori, assumimos ainda por pressupostos teóricos: (2) que funcionalidades a posteriori tendam a ser difusas (Oliveira 2018); e (3) que a emancipação da dissonância se trate de um processo histórico ocorrido sobretudo no seio da tonalidade funcional, motivo pelo qual preparações e resoluções de formações dissonantes (i. e., a reversão de um processo emancipatório) seriam eficazes em remetê-las a estágios anteriores da tonalidade. Após expormos o funcionamento de nosso procedimento nos compassos iniciais do Op. 11/1 (1909) de Schoenberg, realizamos uma análise minuciosa do Op. 19/6 (1911), por meio da qual demonstramos como a obra comporta, virtual e difusamente, um plano tonal surpreendentemente convencional.
ISSN:2525-5541