Summary: | O artigo se concentra na apropriação fenomenológica realizada por Martin Heidegger dos capítulos primeiro ao sétimo do Livro X das Confissões de Agostinho, correspondendo ao § 8 (“A introdução ao livro X”) da preleção friburgense do semestre de verão de 1921 intitulada “Agostinho e o Neoplatonismo”[1]. No presente parágrafo da preleção Heidegger discorre sobre quatro aspectos da confissão-louvor de Agostinho: 1º) O motivo do confiteri diante de Deus e diante dos homens (Confessiones, X,1-4); 2º) O saber relativo a si mesmo no contexto do abismo da consciência humana (Conf. X,5); 3º) A “objetualidade” de Deus não é acessada originariamente a partir da perspectiva grega dos atributos divinos (Conf. X,6); 4º) A essência da alma recebe sua vida do próprio Deus, o qual a “ultrapassa”. Daí a confissão: “quem é Aquele que está cima do cume de minha alma?” (Conf. X,7). Na minha leitura destacarei somente os três últimos aspectos com base na leitura que Heidegger faz do ser da vida de Agostinho de Hipona sob a ótica do sentido de realização da vida como fenômeno originário. Confessar tanto sobre o que sabe a respeito de si mesmo (Selbst) como também o que ignora sobre si mesmo e, ao mesmo tempo, tornar-se uma questão para si mesmo só faz sentido com base na conexão concreta da experiência fática do si, no existir próprio autêntico. Na atitude da busca agostiniana de Deus e de si mesmo, Heidegger entrevê uma pulsão fenomenológica quando ele fala sobre Deus sob a perspectiva da realização (Vollzug), isto é, na dinâmica existencial do quaerere Deum. Enfim, a ambiguidade do percurso de Agostinho é explorada por Heidegger ora com base em uma interpretação objetivante em razão da influência da metafísica grega (Deus como objeto de fruição [fruitio Dei]), ora a partir de uma abordagem histórico-existencial com base na vida fática.
[1] M. HEIDEGGER, Augustin und der Neuplatonismus (SS 1921), In: Phänomenologie des religiösen Lebens (GA 60). Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1995 (22011), 159-298.
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