Apresentação: Ocupar Desde o Sul?

Os acontecimentos que marcaram a Primavera Árabe, a partir de janeiro de 2011, inspiraram uma série de manifestações populares em países localizados do Norte ao Sul Global. Movimentos de protesto, de resistência e de “indignação” ocorreram em vários países com diferenciados contextos políticos, e...

Full description

Bibliographic Details
Main Authors: Daniel de Mendonça, Luciana Ballestrin
Format: Article
Language:Portuguese
Published: Universidade Federal de Pelotas 2013-06-01
Series:Revista Sul-Americana de Ciência Política
Online Access:https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rsulacp/article/view/2730/2475
_version_ 1818260153663750144
author Daniel de Mendonça
Luciana Ballestrin
author_facet Daniel de Mendonça
Luciana Ballestrin
author_sort Daniel de Mendonça
collection DOAJ
description Os acontecimentos que marcaram a Primavera Árabe, a partir de janeiro de 2011, inspiraram uma série de manifestações populares em países localizados do Norte ao Sul Global. Movimentos de protesto, de resistência e de “indignação” ocorreram em vários países com diferenciados contextos políticos, econômicos e culturais. O espectro dos protestos atravessou o Atlântico e acampou no coração financeiro dos Estados Unidos, Wall Street, em setembro deste mesmo ano. Mesmo as ações do Sul (árabe) e do Norte (europeu e estadunidense) terem sido iniciadas por razões locais e nacionais muito diversas, o fato é que os movimentos sulistas inspiraram manifestantes dos países de capitalismo avançado. Neste sentido, a ocupação do Sul/Norte tem ocorrido desde o Sul. Em pelo menos três continentes distintos, o ano de 2011 evidenciou as tensões e contradições da convivência entre o capitalismo financeiro internacional e a democracia representativa. Por outro lado, evidenciou que esta mesma democracia representativa, apesar de seus conhecidos limites, foi pensada como um modelo alternativo para regimes historicamente fechados e não liberalizados politicamente, particularmente nos casos do Norte da África e do Oriente Médio. Neste Zeitgeist global dos protestos, diversos intelectuais e analistas procuram ainda compreender o significado destes acontecimentos para a renovação da utopia, dos projetos de transformação e da crítica radical. Certamente, manifestações e mobilizações populares não são uma novidade histórica e política. Entretanto, a sincronia de algumas características no âmbito das mobilizações atuais traz o compartilhamento de alguns elementos comuns: um certo grau de espontaneidade e interreferência/influência, que não descarta ou anula a experiência e o engajamento prévios das vidas associativas locais; o não alinhamento ou a ressignificação das noções oitocentistas europeias de esquerda e direita; a ocupação e recuperação do potencial democrático das “ruas” como espaço público; o protagonismo de pessoas (indignadas e insatisfeitas) e novos grupos coletivos, em detrimento da presença de organizações tradicionais como partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos; uma heterodoxia em termos de performance e expressão – por exemplo, a utilização do corpo e o ativismo sem rosto; a difusão e fragmentação das demandas que indeterminam uma noção clara de projeto político ideológico; a utilização em larga escala das redes sociais do mundo virtual para articulação e mobilização; a denúncia do esgotamento e dos limites do sistema político, tal como hoje se apresenta nas democracias representativas do mundo ocidental; o questionamento da ingerência do sistema econômico e da submissão aos interesses privados em diferentes níveis de governo. Ainda, é importante notar inúmeros episódios de repressão violenta a estes movimentos por parte das forças governantes. O segundo Dossiê da Revista Sul-Americana de Ciência Política é especialmente dedicado às análises teóricas e empíricas de movimentos de contestação que ocorreram desde a Primavera Árabe de 2011 e que mais recentemente ocuparam também o Brasil. Este número reúne textos de diversas orientações teórico-metodológicas, no âmbito da Ciência Política e das Relações Internacionais. Os mesmos enfocam experiências locais, regionais, nacionais e/ou internacionais de protestos e de ações de desobediência civil em diferentes locais do planeta. Além disso, o leitor de RSulACP terá oportunidade de ler textos da seção de artigos livres, que seguem logo abaixo ao Dossiê Ocupar desde o Sul. Desejamos uma ótima leitura e inspiração!
first_indexed 2024-12-12T18:26:49Z
format Article
id doaj.art-bcc56cf1f65b460a9f72af9653314aac
institution Directory Open Access Journal
issn 2317-5338
language Portuguese
last_indexed 2024-12-12T18:26:49Z
publishDate 2013-06-01
publisher Universidade Federal de Pelotas
record_format Article
series Revista Sul-Americana de Ciência Política
spelling doaj.art-bcc56cf1f65b460a9f72af9653314aac2022-12-22T00:16:01ZporUniversidade Federal de PelotasRevista Sul-Americana de Ciência Política2317-53382013-06-011211Apresentação: Ocupar Desde o Sul?Daniel de Mendonça0Luciana Ballestrin1EditorEditoraOs acontecimentos que marcaram a Primavera Árabe, a partir de janeiro de 2011, inspiraram uma série de manifestações populares em países localizados do Norte ao Sul Global. Movimentos de protesto, de resistência e de “indignação” ocorreram em vários países com diferenciados contextos políticos, econômicos e culturais. O espectro dos protestos atravessou o Atlântico e acampou no coração financeiro dos Estados Unidos, Wall Street, em setembro deste mesmo ano. Mesmo as ações do Sul (árabe) e do Norte (europeu e estadunidense) terem sido iniciadas por razões locais e nacionais muito diversas, o fato é que os movimentos sulistas inspiraram manifestantes dos países de capitalismo avançado. Neste sentido, a ocupação do Sul/Norte tem ocorrido desde o Sul. Em pelo menos três continentes distintos, o ano de 2011 evidenciou as tensões e contradições da convivência entre o capitalismo financeiro internacional e a democracia representativa. Por outro lado, evidenciou que esta mesma democracia representativa, apesar de seus conhecidos limites, foi pensada como um modelo alternativo para regimes historicamente fechados e não liberalizados politicamente, particularmente nos casos do Norte da África e do Oriente Médio. Neste Zeitgeist global dos protestos, diversos intelectuais e analistas procuram ainda compreender o significado destes acontecimentos para a renovação da utopia, dos projetos de transformação e da crítica radical. Certamente, manifestações e mobilizações populares não são uma novidade histórica e política. Entretanto, a sincronia de algumas características no âmbito das mobilizações atuais traz o compartilhamento de alguns elementos comuns: um certo grau de espontaneidade e interreferência/influência, que não descarta ou anula a experiência e o engajamento prévios das vidas associativas locais; o não alinhamento ou a ressignificação das noções oitocentistas europeias de esquerda e direita; a ocupação e recuperação do potencial democrático das “ruas” como espaço público; o protagonismo de pessoas (indignadas e insatisfeitas) e novos grupos coletivos, em detrimento da presença de organizações tradicionais como partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos; uma heterodoxia em termos de performance e expressão – por exemplo, a utilização do corpo e o ativismo sem rosto; a difusão e fragmentação das demandas que indeterminam uma noção clara de projeto político ideológico; a utilização em larga escala das redes sociais do mundo virtual para articulação e mobilização; a denúncia do esgotamento e dos limites do sistema político, tal como hoje se apresenta nas democracias representativas do mundo ocidental; o questionamento da ingerência do sistema econômico e da submissão aos interesses privados em diferentes níveis de governo. Ainda, é importante notar inúmeros episódios de repressão violenta a estes movimentos por parte das forças governantes. O segundo Dossiê da Revista Sul-Americana de Ciência Política é especialmente dedicado às análises teóricas e empíricas de movimentos de contestação que ocorreram desde a Primavera Árabe de 2011 e que mais recentemente ocuparam também o Brasil. Este número reúne textos de diversas orientações teórico-metodológicas, no âmbito da Ciência Política e das Relações Internacionais. Os mesmos enfocam experiências locais, regionais, nacionais e/ou internacionais de protestos e de ações de desobediência civil em diferentes locais do planeta. Além disso, o leitor de RSulACP terá oportunidade de ler textos da seção de artigos livres, que seguem logo abaixo ao Dossiê Ocupar desde o Sul. Desejamos uma ótima leitura e inspiração!https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rsulacp/article/view/2730/2475
spellingShingle Daniel de Mendonça
Luciana Ballestrin
Apresentação: Ocupar Desde o Sul?
Revista Sul-Americana de Ciência Política
title Apresentação: Ocupar Desde o Sul?
title_full Apresentação: Ocupar Desde o Sul?
title_fullStr Apresentação: Ocupar Desde o Sul?
title_full_unstemmed Apresentação: Ocupar Desde o Sul?
title_short Apresentação: Ocupar Desde o Sul?
title_sort apresentacao ocupar desde o sul
url https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rsulacp/article/view/2730/2475
work_keys_str_mv AT danieldemendonca apresentacaoocupardesdeosul
AT lucianaballestrin apresentacaoocupardesdeosul