Summary: | A pandemia do Covid-19 é um dos fenômenos mais importantes de nossa época. Os cientistas se debruçarão sobre ela durante décadas para tentar entender seus efeitos nas múltiplas dimensões da vida. O presente texto é uma tentativa de contribuir com esse entendimento, problematizando alguns dos impactos da pandemia na vida das populações em situação de rua no Distrito Federal. Uma pesquisa extensa tem sido realizada no DF com essas populações e a partir de um recorte, trouxemos três depoimentos que ilustram os processos de intensificação da estigmatização que sofrem. Abordamos teoricamente o tema a partir das reflexões goffmanianas sobre estigma, mas incorporamos outras contribuições mais recentes de modo a lançar luz sobre o que vem ocorrendo com esses grupos. O diálogo entre a teoria e as pesquisas de campo indicam que para além da perspectiva interacionista, o estigma, deve ser compreendido dentro de um contexto mais amplo de relações de poder e desigualdade. O estigma não é um fenômeno aleatório, mas tem alvos privilegiados e os grupos que sofrem com estigmas ocupam, também, posições desprivilegiadas na sociedade: são minorias étnicas, raciais e sexuais, portadores de doenças majoritariamente endêmicas entre os mais pobres ou ainda as populações em situação de rua.
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