Summary: | O artigo desdobra a reflexão do autor sobre a significação social-histórica do bunker glocal
na atualidade — bunker mediático da cibercultura (o cyberspace) que, vigorando para além
do global e do local, já no tecido próprio da glocalização planetária, rearticula e reforça, cul-
turalmente, o processo de militarização obliterada da vida social. A argumentação disseca uma
filigrana sociofenomenológica autopoiética e fundamental da experiência material e subjetiva
desse bunker: um movimento intra-operacional paradoxal no qual se encerram, simultanea-
mente, “refechamento” e “abertura” em relação ao mundo e, em particular, à alteridade. Tal
paradoxo peculiar recobre o modo pelo qual a apropriação coletiva e individual majoritária
das redes digitais se expressa no social-histórico e na vida cotidiana. Com efeito, discursos
ciberufanistas internacionalmente vigentes promovem a “abertura” trazida pela interatividade
como o único fato digno de atenção no estágio atual das forças produtivas. O “refechamento”
material e subjetivo que ele também representa fica descartado como mera excepcionalidade
histórica, acidente ou mal menor. O artigo tensiona a ingenuidade política dessa falácia epocal.
A “abertura” só pode ser compreendida se em interremissão com a tendência de “refechamen-
to”. Se, na cibercultura, inexiste confinamento ou atomização total do sujeito, tampouco se
verifica aprumo inquestionável de horizonte absolutamente livre para ele.
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