Summary: | Durante um ato político em frente ao Fórum da Justiça Federal, na Av. Paulista (São Paulo/SP), duas jovens não indígenas comentam sobre como os Guarani ali presentes estariam “sujos” e “cheios de terra”. Ao compartilhar essas falas com meus interlocutores, tal olhar discriminatório é rebatido a partir de uma complexa crítica indígena ao modo de vida não indígena, descrito, sobretudo, a partir da sujeira que caracteriza a cidade e as criaturas que nela vivem – principalmente, os ratos. O objetivo desse artigo é, partindo dessa crítica indígena, descrever as relações entre os Guarani-Mbya e os ratos no contexto da Terra Indígena Jaraguá, situada no noroeste da cidade de São Paulo. Busco compreender, sobretudo, como os Guarani percebem e relacionam-se com essas “espécies companheiras”, mesmo que sua companhia seja, algumas vezes, incômoda e indesejada. Ao analisar categorias cosmológicas Guarani associadas aos ratos – como sujo, feio e podre – argumento que os discursos de meus interlocutores sobre as relações entre roedores e humanos podem ser lidos como uma profunda crítica Guarani ao potencial predatório e destrutivo do modo de vida dos brancos.
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