Summary: | Introdução: É polémica e muito discutida a exposição pública de estados de humor e opiniões nas redes sociais cibernéticas,
por supostamente colidir com a privacidade individual. Porém, não constituirão estas redes uma ferramenta útil para acesso ao
indivíduo?
Descrição do caso: Ana, 19 anos, integrada numa família monoparental, tem antecedentes de perturbação ansiosa, cuja sintomatologia
começou aos 14 anos. Nessa altura, após divórcio parental, recorreu ao SU hospitalar após públicas ameaças de suicídio,
interpretadas como crises histeriformes em contexto apelativo. Em Outubro/2010, vem à consulta revelando-se «feliz»
e com uma relação amorosa de um ano. A mãe conta «só pensa em namorado e facebook!». Em Fevereiro/2011, é trazida pela
mãe por estar chorosa desde o fim da relação amorosa há três meses e ter afirmado «morrer é a melhor solução». Questionada
sobre intenção de suicídio, Ana nega. Atendendo aos antecedentes, torna-se difícil para o médico de família (MF) e para a
sua mãe determinar o valor preditivo positivo da intenção de suicídio em tais palavras. Porém, uma visita ao seu perfil facebook,
pelo seu MF, permite constatar que, perante a possibilidade de centralização de atenção, Ana não publicara qualquer informação
desde há três meses. Tal faz consolidar a suspeita de perturbação depressiva major numa doente de risco. No seu quarto,
é encontrada, posteriormente, uma embalagem contendo organofosforados. Em fase terapêutica de manutenção, Ana revela
que planeara o suicídio.
Comentário: Tal como uma consulta domiciliária fornece dados para um entendimento biopsicossocial, esta consulta no domicílio
cibernético consistiu numa ferramenta de exploração da interacção da doente com seu meio, permitindo retirar informação
relativa ao seu status na dimensão social e inferir sobre seu status na dimensão psicológica. Este caso é exemplo de que,
em contextos clínicos seleccionados, as redes sociais poderão ter uma potencialidade complementar para acesso ao indivíduo.
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