A Natureza das Coisas

O poema épico-didático A Natureza das Coisas (De rerum natura), de Lucrécio (Titus Lucretius Carus – séc. I a.C) é uma das grandes obras literatura universal. Fundindo poesia e filosofia, trata-se da divulgação da doutrina do filósofo grego Epicuro (300 a.C), a um tempo formado nos ensinamentos de S...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Mario Henrique Domingues
Format: Article
Language:English
Published: Universidade de Brasília 2020-03-01
Series:Belas Infiéis
Subjects:
Online Access:https://periodicos.unb.br/index.php/belasinfieis/article/view/27043
Description
Summary:O poema épico-didático A Natureza das Coisas (De rerum natura), de Lucrécio (Titus Lucretius Carus – séc. I a.C) é uma das grandes obras literatura universal. Fundindo poesia e filosofia, trata-se da divulgação da doutrina do filósofo grego Epicuro (300 a.C), a um tempo formado nos ensinamentos de Sócrates e reformista do atomismo de filósofos pré-socráticos, principalmente de Demócrito. No âmbito da poesia, Lucrécio influenciou grandes poetas latinos que o sucederam, tais como Virgílio, Horácio e Ovídio. O poema trata principalmente da física epicurista, em que a natureza está reduzida a átomos e ao vazio. Esta física está centrada no átomo como elemento infinitesimal da matéria, à qual estão submetidas outras categorias filosóficas como a metafísica (na aceitação da hipótese da existência dos deuses, mas também na diatribe contra a superstição) e a moral (na crítica ao amor visto como desejo meramente carnal e no elogio da amizade como “contrato social”). Tendo sido solapados pelo avanço do cristianismo, Lucrécio e Epicuro sofreram pelo menos mil anos de ostracismo. As críticas de Kant aos atomistas da antiguidade e a canonização científica da mecânica dos sólidos de Newton também influenciaram nesta quarentena do epicurismo. A partir do séc. XIX o poema de Lucrécio passou a receber a atenção de filósofos, poetas e tradutores. Na filosofia, foi estudado por Henry Bergson, Michel Serres (para quem Lucrécio seria o precursor da mecânica dos fluidos), Giles Deleuze, Clément Rosset, Phillipe Sollers e André Compte-Sponville. Na poesia francesa do XX, Paul Valéry e, sobretudo, Francis Ponge ecoam o requintado imagismo de Lucrécio.
ISSN:2316-6614