DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NAS DOENÇAS HEMATOLÓGICAS – SÍNDROME LINFOPROLIFERATIVA AUTOIMUNE

Introdução: O diagnóstico diferencial das doenças hematológicas pode ser um grande desafio. As doenças autoimunes constituem parte importante desse diferencial, sendo rastreadas com frequência nas doenças hematológicas como um todo. Múltiplas biópsias, terapias empíricas, internações prolongadas e d...

Full description

Bibliographic Details
Main Authors: LF Becker, GL Costa, LAPD Carmo, G Campos, MP Beltrame, MEB Abreu, MS Santin, MM Walz, B Veroneze, RS Vasconcelos
Format: Article
Language:English
Published: Elsevier 2023-10-01
Series:Hematology, Transfusion and Cell Therapy
Online Access:http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2531137923004571
_version_ 1827788670264934400
author LF Becker
GL Costa
LAPD Carmo
G Campos
MP Beltrame
MEB Abreu
MS Santin
MM Walz
B Veroneze
RS Vasconcelos
author_facet LF Becker
GL Costa
LAPD Carmo
G Campos
MP Beltrame
MEB Abreu
MS Santin
MM Walz
B Veroneze
RS Vasconcelos
author_sort LF Becker
collection DOAJ
description Introdução: O diagnóstico diferencial das doenças hematológicas pode ser um grande desafio. As doenças autoimunes constituem parte importante desse diferencial, sendo rastreadas com frequência nas doenças hematológicas como um todo. Múltiplas biópsias, terapias empíricas, internações prolongadas e desgaste físico e emocional do paciente e da equipe são obstáculos presentes em casos mais complexos. A Síndrome Linfoproliferativa Autoimune (ALPS) participa desses diferenciais, com poucos marcadores alvo e não disponíveis de maneira ampla, costuma ainda ser pouco lembrada. Uma clínica inespecífica de astenia, linfonodomegalias e esplenomegalia como principais queixas iniciais. Citopenias de múltiplas linhagens acompanham. Relato de caso: Paciente feminina, 26 anos, previamente hígida, encaminhada após extensa investigação em outro serviço por quadro de linfonodomegalias, predominância em região cervical bilateral, a maior medindo 24 x 10 mm, associada a hepatoesplenomegalia, com perda ponderal superior a 10 kg em 6 meses, além de úlceras orais dolorosas, dificultando a alimentação. Laboratorialmente possuía leucopenia grave, com 53 neutrófilos por mm3, e anemia com hemoglobina de 8,1 g/dL (normocrômica e normocítica), sorologias virais para HIV, Hepatites, Mononucleose e Citomegalovírus negativas. Sífilis, toxoplasmose e leishmaniose também negativas. Perfil carencial com vitamina B12 de 359 pg/mL. Nos exames de imagem realizados previamente, que incluíam tomografias e ultrassonografias, possuía linfonodomegalias em cadeias cervicais bilaterais, bem como hepatoesplenomegalia homogênea. Havia sido submetida a 3 biópsias de medula óssea com mielograma e imunofenotipagem, 2 biópsias excisionais de linfonodos (ambas com laudo final indicando reacional), esplenectomia e exposição a múltiplos esquemas de antibioticoterapia por quadros infecciosos. Exames prévios a esplenectomia indicavam presença de plaquetopenia grave. Em revisão de biópsias de nossa unidade, o aspecto reacional benigno dos linfonodos foi mantido. Agora apresentava hepatomegalia grave, 15 cm abaixo do rebordo costal direito, causando dor abdominal e náuseas frequentes. Seguindo investigação, já possuía FAN e demais pesquisas autoimunes negativas. Na imunofenotipagem foi confirmada a presença de células T duplo-negativas características da doença, que, em conjunto com o quadro não maligno e não infeccioso, mantido por período superior a 6 meses, concluem o diagnóstico de ALPS. A paciente foi submetida a tratamento com prednisona 1 mg/kg, com excelente resposta, com a contagem de neutrófilos indo de 134 para 2851 mm3 em 3 semanas. A hemoglobina foi de 7,1 para 13 g/dL, com transfusão de 1 concentrado de hemácias na data da primeira aferição, no mesmo período. Houve ganho de peso de mais de 10 kg. Atualmente retomou suas atividades laborais e foi realizado ajuste da terapia com micofenolato de mofetila 1.500 mg a cada 12 horas, com retirada completa do corticoide e manutenção da excelente resposta. Conclusão: A síndrome ALPS é um diagnóstico raro e de investigação pouco frequente. Conforme previsto na literatura, até 50% dos pacientes passam por esplenectomia antes do diagnóstico final, fato ocorrido com a paciente, dada a raridade do diagnóstico e da esplenomegalia associada a plaquetopenia no início do quadro. A excelente resposta ao tratamento de primeira linha, bem como a presença da típica população duplo negativa corrobora com o padrão da doença. Acompanhamento conjunto com a equipe de reumatologia e desmame precoce de corticoides são boas práticas para um cuidado adequado com a paciente. Quando disponíveis, as pesquisas genéticas trazem força ao diagnóstico e permitem identificação de risco, visto caráter familiar também estar presente.
first_indexed 2024-03-11T17:08:50Z
format Article
id doaj.art-e1cbcb0c56d84f99b3a5161d13157e01
institution Directory Open Access Journal
issn 2531-1379
language English
last_indexed 2024-03-11T17:08:50Z
publishDate 2023-10-01
publisher Elsevier
record_format Article
series Hematology, Transfusion and Cell Therapy
spelling doaj.art-e1cbcb0c56d84f99b3a5161d13157e012023-10-20T06:41:05ZengElsevierHematology, Transfusion and Cell Therapy2531-13792023-10-0145S115S116DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NAS DOENÇAS HEMATOLÓGICAS – SÍNDROME LINFOPROLIFERATIVA AUTOIMUNELF Becker0GL Costa1LAPD Carmo2G Campos3MP Beltrame4MEB Abreu5MS Santin6MM Walz7B Veroneze8RS Vasconcelos9Hospital Erasto Gaertner (HEG), Curitiba, PR, BrasilHospital Erasto Gaertner (HEG), Curitiba, PR, BrasilHospital Erasto Gaertner (HEG), Curitiba, PR, BrasilHospital Erasto Gaertner (HEG), Curitiba, PR, BrasilHospital Erasto Gaertner (HEG), Curitiba, PR, BrasilHospital Erasto Gaertner (HEG), Curitiba, PR, BrasilHospital Erasto Gaertner (HEG), Curitiba, PR, BrasilHospital Erasto Gaertner (HEG), Curitiba, PR, BrasilHospital Erasto Gaertner (HEG), Curitiba, PR, BrasilHospital Erasto Gaertner (HEG), Curitiba, PR, BrasilIntrodução: O diagnóstico diferencial das doenças hematológicas pode ser um grande desafio. As doenças autoimunes constituem parte importante desse diferencial, sendo rastreadas com frequência nas doenças hematológicas como um todo. Múltiplas biópsias, terapias empíricas, internações prolongadas e desgaste físico e emocional do paciente e da equipe são obstáculos presentes em casos mais complexos. A Síndrome Linfoproliferativa Autoimune (ALPS) participa desses diferenciais, com poucos marcadores alvo e não disponíveis de maneira ampla, costuma ainda ser pouco lembrada. Uma clínica inespecífica de astenia, linfonodomegalias e esplenomegalia como principais queixas iniciais. Citopenias de múltiplas linhagens acompanham. Relato de caso: Paciente feminina, 26 anos, previamente hígida, encaminhada após extensa investigação em outro serviço por quadro de linfonodomegalias, predominância em região cervical bilateral, a maior medindo 24 x 10 mm, associada a hepatoesplenomegalia, com perda ponderal superior a 10 kg em 6 meses, além de úlceras orais dolorosas, dificultando a alimentação. Laboratorialmente possuía leucopenia grave, com 53 neutrófilos por mm3, e anemia com hemoglobina de 8,1 g/dL (normocrômica e normocítica), sorologias virais para HIV, Hepatites, Mononucleose e Citomegalovírus negativas. Sífilis, toxoplasmose e leishmaniose também negativas. Perfil carencial com vitamina B12 de 359 pg/mL. Nos exames de imagem realizados previamente, que incluíam tomografias e ultrassonografias, possuía linfonodomegalias em cadeias cervicais bilaterais, bem como hepatoesplenomegalia homogênea. Havia sido submetida a 3 biópsias de medula óssea com mielograma e imunofenotipagem, 2 biópsias excisionais de linfonodos (ambas com laudo final indicando reacional), esplenectomia e exposição a múltiplos esquemas de antibioticoterapia por quadros infecciosos. Exames prévios a esplenectomia indicavam presença de plaquetopenia grave. Em revisão de biópsias de nossa unidade, o aspecto reacional benigno dos linfonodos foi mantido. Agora apresentava hepatomegalia grave, 15 cm abaixo do rebordo costal direito, causando dor abdominal e náuseas frequentes. Seguindo investigação, já possuía FAN e demais pesquisas autoimunes negativas. Na imunofenotipagem foi confirmada a presença de células T duplo-negativas características da doença, que, em conjunto com o quadro não maligno e não infeccioso, mantido por período superior a 6 meses, concluem o diagnóstico de ALPS. A paciente foi submetida a tratamento com prednisona 1 mg/kg, com excelente resposta, com a contagem de neutrófilos indo de 134 para 2851 mm3 em 3 semanas. A hemoglobina foi de 7,1 para 13 g/dL, com transfusão de 1 concentrado de hemácias na data da primeira aferição, no mesmo período. Houve ganho de peso de mais de 10 kg. Atualmente retomou suas atividades laborais e foi realizado ajuste da terapia com micofenolato de mofetila 1.500 mg a cada 12 horas, com retirada completa do corticoide e manutenção da excelente resposta. Conclusão: A síndrome ALPS é um diagnóstico raro e de investigação pouco frequente. Conforme previsto na literatura, até 50% dos pacientes passam por esplenectomia antes do diagnóstico final, fato ocorrido com a paciente, dada a raridade do diagnóstico e da esplenomegalia associada a plaquetopenia no início do quadro. A excelente resposta ao tratamento de primeira linha, bem como a presença da típica população duplo negativa corrobora com o padrão da doença. Acompanhamento conjunto com a equipe de reumatologia e desmame precoce de corticoides são boas práticas para um cuidado adequado com a paciente. Quando disponíveis, as pesquisas genéticas trazem força ao diagnóstico e permitem identificação de risco, visto caráter familiar também estar presente.http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2531137923004571
spellingShingle LF Becker
GL Costa
LAPD Carmo
G Campos
MP Beltrame
MEB Abreu
MS Santin
MM Walz
B Veroneze
RS Vasconcelos
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NAS DOENÇAS HEMATOLÓGICAS – SÍNDROME LINFOPROLIFERATIVA AUTOIMUNE
Hematology, Transfusion and Cell Therapy
title DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NAS DOENÇAS HEMATOLÓGICAS – SÍNDROME LINFOPROLIFERATIVA AUTOIMUNE
title_full DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NAS DOENÇAS HEMATOLÓGICAS – SÍNDROME LINFOPROLIFERATIVA AUTOIMUNE
title_fullStr DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NAS DOENÇAS HEMATOLÓGICAS – SÍNDROME LINFOPROLIFERATIVA AUTOIMUNE
title_full_unstemmed DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NAS DOENÇAS HEMATOLÓGICAS – SÍNDROME LINFOPROLIFERATIVA AUTOIMUNE
title_short DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NAS DOENÇAS HEMATOLÓGICAS – SÍNDROME LINFOPROLIFERATIVA AUTOIMUNE
title_sort diagnostico diferencial nas doencas hematologicas sindrome linfoproliferativa autoimune
url http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2531137923004571
work_keys_str_mv AT lfbecker diagnosticodiferencialnasdoencashematologicassindromelinfoproliferativaautoimune
AT glcosta diagnosticodiferencialnasdoencashematologicassindromelinfoproliferativaautoimune
AT lapdcarmo diagnosticodiferencialnasdoencashematologicassindromelinfoproliferativaautoimune
AT gcampos diagnosticodiferencialnasdoencashematologicassindromelinfoproliferativaautoimune
AT mpbeltrame diagnosticodiferencialnasdoencashematologicassindromelinfoproliferativaautoimune
AT mebabreu diagnosticodiferencialnasdoencashematologicassindromelinfoproliferativaautoimune
AT mssantin diagnosticodiferencialnasdoencashematologicassindromelinfoproliferativaautoimune
AT mmwalz diagnosticodiferencialnasdoencashematologicassindromelinfoproliferativaautoimune
AT bveroneze diagnosticodiferencialnasdoencashematologicassindromelinfoproliferativaautoimune
AT rsvasconcelos diagnosticodiferencialnasdoencashematologicassindromelinfoproliferativaautoimune