Por uma mulher. Receção de um tópico homérico nos Atos de Paulo e Tecla

Briseida, “cuja beleza igualava a da dourada Afrodite” (Il. 19.282), é uma das principais personagens da Ilíada que está na origem da discórdia entre Aquiles e Agamémnon. No ataque a Lirnesso, o guerreiro Aquiles capturou a bela jovem, por quem se afeiçoou. No entanto, o rei de Micenas quis recuper...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Carlos Pereira
Format: Article
Language:English
Published: UA Editora 2023-11-01
Series:Forma Breve
Subjects:
Online Access:https://proa.ua.pt/index.php/formabreve/article/view/34786
Description
Summary:Briseida, “cuja beleza igualava a da dourada Afrodite” (Il. 19.282), é uma das principais personagens da Ilíada que está na origem da discórdia entre Aquiles e Agamémnon. No ataque a Lirnesso, o guerreiro Aquiles capturou a bela jovem, por quem se afeiçoou. No entanto, o rei de Micenas quis recuperar a donzela Briseida, o que fez aumentar ainda mais a cólera do herói. Aquiles acusa Agamémnon de ter ficado com a mulher que lhe suscitava maior interesse. Para acalmar a ira de Aquiles, o ancião Nestor, que desaprovara a atitude do Atrida, aconselha-o a oferecer presentes ao guerreiro lesado. Agamémnon faz um juramento em que restitui Briseida a Aquiles, confessando ainda nunca se ter deitado com ela na cama (Il. 19.262). Os Atos de Paulo e Tecla, um texto apócrifo dos séculos II/III d.C., narram a história de uma jovem, também ela bela e importante, chamada Tecla, que vivia em Icónio. Tamírides era um homem de relevo da cidade a quem Tecla fora prometida em casamento. Porém, com a chegada do apóstolo Paulo, os planos mudaram radicalmente. A jovem abdica do enlace matrimonial e converte-se ao cristianismo. Como consequência, ela é condenada à fogueira. Escapando à sentença, Tecla vai para Antioquia da Pisídia, onde se cruza com Alexandre, outro homem que a cobiça e se perde de amores por ela, mas sem sucesso. O resultado foi uma nova condenação, desta feita ad bestias. Face ao caos que se tinha gerado, o governador decide libertá-la. Com este trabalho, pretendemos estudar a possível receção do topos homérico no texto apócrifo cristão, em que uma mulher bela é disputada por vários homens movidos pelo amor e, simultaneamente, pelo ciúme e pelo desejo de vingança.
ISSN:1645-927X
2183-4709