Summary: | Introdução: A toxoplasmose de sistema nervoso central (SNC) está em terceiro lugar como a infecção oportunista definidora de AIDS mais prevalente no Brasil, sendo o encéfalo o local mais comum de acometimento. A mielite pelo Toxoplasma gondii é considerada rara mesmo nos casos de imunossupressão, mas sua hipótese deve ser considerada e está amplamente associada a gravidade e desfecho desfavorável. Objetivo: Relato de caso de toxoplasmose de SNC com acometimento de medula espinhal em paciente HIV sem tratamento prévio. Método: Paciente do sexo masculino, 49 anos, branco, HIV positivo há 15 anos com carga viral detectável e CD4 29 células/mm³. Foi admitido devido cervicalgia com irradiação para face lateral de membros superiores associado a parestesia e paraparesia de membro inferior direito há 15 dias. Na ressonância magnética de crânio foram vistas lesões com realce anelar e áreas de edema vasogênico perilesional na porção posterolateral direita da ponte, lobo occipital esquerdo e pedúnculo cerebelar direito. Devido a síndrome clínica e o exame de imagem, compatíveis com neurotoxoplasmose, foi iniciado o tratamento com Sulfadiazina, Pirimetamina e ácido folínico. Resultados: Durante a internação, o paciente apresentou incontinência fecal e urinária seguida de paraplegia. Feita ressonância magnética (RNM) de neuroeixo, evidenciando lesão grosseiramente nodular expansiva de situação intra-raquídea, intradural e intramedular de C7 a T1. Realizada abordagem cirúrgica pela equipe da neurocirurgia, com diagnóstico definitivo de neurotoxoplasmose através do anatomopatológico. O paciente evoluiu a óbito um mês após início do tratamento. Conclusão: A neurotoxoplasmose é uma doença oportunista grave, estando sempre no escopo dos diagnósticos diferenciais em portadores do vírus da imunodeficiência que se apresentam com sintomas neurológicos focais. Revisões sugerem que, nestes pacientes, a evidência sorológica da infecção por T. gondii e sintomas de mielite, devem receber tratamento empírico imediato vista alta taxa de mortalidade e complicações neurológicas, sendo a biópsia reservada para casos de não melhora clínica. O nosso paciente teve uma evolução fatal mesmo com tratamento instituído, o que corrobora a severidade da doença. A morbimortalidade pela doença vem diminuindo devido o acesso a terapia antirretroviral (TARV), mas a infecção por T. gondii ainda representa um determinante de mau prognóstico na história natural do HIV.
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