Marginalia: algumas notas adicionais sobre o dom

Prosseguindo a análise do dom, este artigo busca ultrapassar as visões fenomenológica, estruturalista e economicista do fenômeno. Para tanto, desloca o eixo de interrogação na direção do tempo e da incerteza ligados ao intervalo entre o dom e o contradom, do agente e da ação ligados às práticas, da...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Pierre Bourdieu
Format: Article
Language:English
Published: Universidade Federal do Rio de Janeiro 1996-10-01
Series:Mana
Online Access:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131996000200001
Description
Summary:Prosseguindo a análise do dom, este artigo busca ultrapassar as visões fenomenológica, estruturalista e economicista do fenômeno. Para tanto, desloca o eixo de interrogação na direção do tempo e da incerteza ligados ao intervalo entre o dom e o contradom, do agente e da ação ligados às práticas, da economia de bens simbólicos e o habitus específico que a funda. Demonstrase assim, contra todo reducionismo (à consciência, ao cálculo inconsciente ou ao cálculo propriamente dito), que a razão do dom só pode repousar sobre sua dupla verdade, seu caráter generoso e obrigatório. Por outro lado, demonstrase também que foi somente através de uma revolução simbólica, e não o desenvolvimento de uma suposta natureza humana, que uma economia da troca pôde, historicamente, se destacar da economia do dom, cuja possibilidade continua aberta, dependendo apenas dos investimentos coletivos que sejam efetuados em sua direção.<br>Resuming an analysis of the gift, this article seeks to go beyond the phenomenological, structuralist, and economicist view of this phenomenon. It thereby shifts the trust of questioning towards the time and uncertainty linked with the interval between the gift and the counter-gift, the agent and the action linked to such practices, the economy of symbolic goods, and the specific habitus underlying it. It thus demonstrates against any and all reductionism (to consciousness, to unconcious calculation, and to calculation per se) that the gift's reason can only lie in its double truth, its generous and obligatory nature, both disinterested and interested. The author also demonstrates historically that it is only through a symbolic revolution, and not the development of a supposed human nature, that an economy of exchange can stand out from the economy of the gift, whose possibility remains open, requiring collective investments in its direction.
ISSN:0104-9313
1678-4944