Entrevista sobre a mortalidade materna, pandemia de Covid-19 e pós-pandemia, na perspectiva do Comitê Estadual de Mortalidade Materna de Pernambuco – CEEMM-PE

Eu sempre tenho dúvidas ao falar sobre a pandemia de Covid-19 e seus efeitos devastadores. Por onde começar? Qual o sentimento a animar a conversa? Foram e continuam sendo muitas imagens, escutas, experiências, perdas, acolhimentos, casos e descasos. Falar na primeira ou na terceira pessoa? Isso ce...

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Main Author: Sandra Valongueiro
Format: Article
Language:Portuguese
Published: Fundação Joaquim Nabuco 2023-11-01
Series:Cadernos de Estudos Sociais
Online Access:https://periodicos.fundaj.gov.br/CAD/article/view/2228
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description Eu sempre tenho dúvidas ao falar sobre a pandemia de Covid-19 e seus efeitos devastadores. Por onde começar? Qual o sentimento a animar a conversa? Foram e continuam sendo muitas imagens, escutas, experiências, perdas, acolhimentos, casos e descasos. Falar na primeira ou na terceira pessoa? Isso certamente ajuda a definir a medida do quanto me distancio e do quanto me aproximo dos acontecimentos. Surgem as memórias do que foi lidar com mais uma doença infeciosa desconhecida, da tristeza em prever quem mais se contaminaria, quem teria sua doença mais agravada, quem morreria mais. Reascende a angústia do que foi conviver com um governo (eleito) sem empatia e do que esse foi capaz de fazer a uma população exausta de tanto bater cabeça para acordar no dia seguinte, muitas vezes crente só em messias, pois a política se colocava como um exercício constante de faraway so close (Tão longe tão perto - tradução da autora). Relembra que a pura ignorância, desprovida de ética e compaixão, propagou o descaso, assumiu o negacionismo como política pública e naturalizou o sofrimento do outro como se fosse destino. Ao mesmo tempo, a necessidade falar da resiliência de profissionais de saúde, da resistência de pesquisadores/as no enfretamento às mentiras e omissões governamentais, da energia dos povos organizados, da articulação de governadores e políticos não terraplanistas, da CPI da Covid-19 e do papel das mídias, inclusive as tradicionais, no acompanhamento e monitoramento dos dados de morbimortalidade. Parte dessas estratégias de reação se aproxima do que Simone Diniz chamou de Epidemiologia de guerrilha: o papel de grupos organizados na visibilização dos agravos da covid-19 na gravidez no Brasil, apresentado no Seminário “Muito além do vírus: efeitos da covid-19 na saúde sexual e reprodutiva no Brasil”, em fevereiro de 2023. Na perspectiva de epidemiologia de guerrilha, ressalto a contribuição do Observatório Obstétrico para o campo da saúde e mortalidade materna e Covid-19. Então, é com esse sentimento de medo e esperança que inundou nossas vidas que seguirei conversando.
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