Summary: | Neste artigo procuro apresentar algumas reflexões da pesquisa desenvolvida junto a coletivos de pescadores, vazanteiros e quilombolas que vivem nas porções inundáveis das margens do rio São Francisco, na região Norte do Estado de Minas Gerais. O foco da discussão recairá sobre as relações destes coletivos com as plantas, o gado e o tempo, pensados aqui como ponto de partida para a compreensão do que é a vida na beira do rio. Esta paisagem está condicionada a constantes transformações relacionadas aos períodos de cheias e secas, o que colabora para a formação de diferentes áreas, que são classificadas e nomeadas por aqueles que ali habitam. Contudo, tais transformações não são as únicas vivenciadas por estes coletivos. Os habitantes da beira do rio também acompanham, no decorrer de suas trajetórias, diversas mudanças em relação ao clima e ao acesso aos seus territórios. A forma como percebem estas mudanças não são diretas, mas sim intermediadas pela ação de outros seres. Dessa forma, neste trabalho as plantas são discutidas enquanto dispositivos de memória onde as transformações do tempo estão impressas, sendo tempo uma categoria acionada pelos meus interlocutores enquanto uma conjugação do tempo climático com o tempo histórico.
|